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“Crimes virtuais crescem no Brasil, e DF se torna o 'firewall fragilizado' dos ataques”, Sinpol-DF cobra investimento urgente nos policiais civis

O DF é a quarta unidade da Federação com o maior número de cibercrimes — um estelionato virtual a cada 28 minutos — e precisa investir diretamente nos profissionais, com capacitação, valorização e melhoria salarial, para manter resultados efetivos, afirma a entidade.
Segurança Pública Matérias Especiais
26/03/2025 14:00

Dispositivos móveis invadidos, dados bancários roubados, golpes financeiros via WhatsApp e outras redes sociais, clonagem de identidade, sextorsão (chantagem com fotos ou vídeos íntimos), cyberbullying, vírus e malware. Esses são apenas alguns exemplos dos perigos que os cidadãos enfrentam diariamente diante do crescimento acelerado e quase incontrolável dos crimes virtuais, alerta o Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF).

Em 2024, os brasilienses foram vítimas de uma verdadeira avalanche de crimes virtuais. De acordo com dados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), foram registrados 18.572 golpes aplicados por estelionatários virtuais ao longo do ano — o que equivale a um golpe a cada 28 minutos. O dado chama ainda mais atenção quando se observa que o estelionato virtual representa quase 70% (69,6%) de todos os crimes virtuais registrados no DF no ano passado, que somaram 26.696 ocorrências. 

“Crimes virtuais crescem no Brasil, e DF se torna o 'firewall fragilizado' dos ataques”, ressalta o Sinpol-DF. A expressão 'firewall fragilizado' é usada pela entidade para destacar como a capital federal, que deveria funcionar como uma barreira robusta contra ataques cibernéticos, encontra-se especialmente vulnerável diante da falta de investimentos adequados nos policiais civis, principais responsáveis pela segurança digital da região, atuando nesta demanda específica em conjunto com a Polícia Federal, uma vez que Brasília também está no radar jurisdicional da corporação. 

O Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de ataques cibernéticos, atrás apenas dos Estados Unidos, com mais de 700 milhões de tentativas de invasão registradas em um período de 12 meses, o equivalente a 1.379 ataques por minuto, segundo relatório do Panorama de Ameaças para a América Latina 2024.

O levantamento da Kaspersky – uma empresa tecnológica especializada na produção de softwares de segurança à Internet – aponta que, entre junho de 2023 e julho de 2024, foram bloqueados mais de 725 milhões de ataques de malware no país, o que representa 63% das detecções na América Latina. Apesar da redução de 16% em relação ao período anterior, esses números alertam para a urgência do reforço nas políticas de cibersegurança, especialmente nos investimentos destinados às polícias investigativas e seus profissionais.

“A realidade brasileira expõe uma fragilidade que demanda ações imediatas e robustas no setor de segurança pública, especialmente na esfera das polícias investigativas. Se não houver investimento, reforço no efetivo, capacitação e valorização profissional dos investigadores, poderemos enfrentar um colapso da segurança virtual muito em breve, pois o crime organizado, por meio das facções, tem ocupado cada vez mais espaço no ambiente virtual”, alerta o sindicato.

Presidente do Sinpol-DF afirma que investir no efetivo policial, em capacitação, equipamentos tecnológicos e, principalmente, na valorização profissional dos policiais civis é essencial para combater os crimes virtuais e assegurar maior segurança e tranquilidade para os cidadãos | Foto: Comunicação Sinpol-DF

No Distrito Federal, os desafios assumem proporções ainda mais preocupantes. Com Brasília sediando a capital federal e abrigando autoridades locais e nacionais, além das sedes dos Três Poderes, a região se torna um alvo preferencial de criminosos cibernéticos. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 apontam o DF como a quarta unidade da Federação com mais ocorrências de estelionatos por meio virtual, somando 16.060 casos registrados (crescimento de 2% em comparação ao relatório do ano anterior), ficando atrás somente de Santa Catarina, Minas Gerais e Pará, respectivamente.

Diariamente, investigadores da PCDF lidam com complexas operações para identificar, controlar e neutralizar ameaças cibernéticas, além de prender os responsáveis por esses crimes. A alta capacitação técnica desses profissionais garante resultados expressivos, porém a falta de valorização profissional e de efetivo, segundo o Sinpol-DF, tem gerado impactos negativos que comprometem diretamente a eficiência das ações contra o crime digital e organizado.

“A segurança do espaço virtual depende integralmente do trabalho das polícias investigativas, sendo essa uma atribuição exclusiva dessas instituições. Nenhuma outra força de segurança tem competência técnica e jurídica para realizar investigações complexas na esfera digital e atuar na linha de frente contra o crime organizado cibernético. No DF, apesar dos excelentes resultados obtidos pelos policiais civis, a valorização profissional é essencial para manter a motivação e aprimorar ainda mais os resultados alcançados pela PCDF”, afirma Enoque Venâncio de Freitas, presidente do Sinpol-DF.

“A necessidade de ações efetivas e imediatas nunca esteve tão evidente. Investir no efetivo policial, em capacitação, equipamentos tecnológicos e, principalmente, na valorização profissional dos policiais civis é essencial para combater os crimes virtuais e assegurar maior segurança e tranquilidade à população brasileira”, conclui o sindicalista.

ESPECIALISTA DA PCDF DESTACA AVANÇOS E DESAFIOS NA INVESTIGAÇÃO

Ulisses da Nobrega é agente de polícia da PCDF há 19 anos, atualmente lotado na Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (CORF), onde atua com investigação de fraudes patrimoniais em ambiente cibernético e análise financeira. Anteriormente, integrou a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC).

Segundo Nobrega, atualmente a PCDF conta com investigadores altamente capacitados e qualificados no combate aos crimes cibernéticos, uma iniciativa estratégica que ajudou a desafogar antecipadamente as delegacias especializadas, como a DRCC e a CORF. “Hoje, todas as delegacias têm capacidade técnica para investigar e solucionar crimes virtuais graças ao excelente trabalho desenvolvido pela Escola Superior de Polícia Civil (ESPC). Esse esforço tornou a PCDF uma referência nacional também na investigação em ambiente cibernético”, afirma.

Ulisses da Nobrega, agente de polícia da PCDF com quase 20 anos de experiência na área, detalha os avanços, os desafios e a sobrecarga enfrentada por quem está na linha de frente | Foto: Arquivo Pessoal

 Entre os principais desafios citados pelo especialista está a crescente sofisticação dos criminosos. "Os criminosos possuem amplo conhecimento técnico e utilizam métodos avançados para ocultar rastros digitais e dificultar as investigações. Felizmente, nós também dispomos de tecnologias complexas, incluindo a Inteligência Artificial (IA), que tem sido uma grande aliada para o sucesso das investigações", explica.

 Contudo, Nobrega ressalta que o maior obstáculo enfrentado pelos investigadores é o crescimento exponencial da demanda por esse tipo de investigação. "Os crimes cibernéticos praticamente dobraram nos últimos anos, o que exige investimentos maiores não apenas na estrutura policial, mas também no reforço do efetivo e na valorização profissional dos investigadores. Essa sobrecarga tem gerado cansaço acumulado e desgaste para os policiais", alerta.

Docente há 10 anos na Escola Superior de Polícia Civil (ESPC), Nobrega é titular da cadeira "Investigação em Ambiente Cibernético" e ministra cursos promovidos pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego), Polícia Civil de Goiás (PCGO), PCDF e Polícia Legislativa do Congresso Nacional. Ele possui graduação em Sistemas de Informação e Administração, além de pós-graduações em Análise de Sistemas, Computação Forense e Perícia.

OPERAÇÃO 'FALSO ANTIVÍRUS' EVIDENCIA VULNERABILIDADE NO DF

Quadrilha aplica golpe com falso antivírus e malware: Em novembro de 2024, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desarticulou uma quadrilha que operava online aplicando golpes em todo o país. A megaoperação resultou no bloqueio de mais de R$ 1 milhão em contas bancárias para ressarcir as vítimas. Os criminosos utilizavam ligações telefônicas para se passar por representantes de bancos, induzindo vítimas a baixar um falso antivírus. 

O software instalava o malware GhostRat, permitindo acesso remoto aos celulares das vítimas para realizar transações financeiras ilegais. Durante buscas, foram encontrados R$ 556 mil e US$ 4 mil em uma das residências. Os envolvidos foram indiciados por fraude eletrônica, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Golpe de phishing contra servidores do GDF: Em fevereiro de 2025, a PCDF desmantelou uma quadrilha especializada em golpes de phishing contra servidores do Governo do Distrito Federal (GDF). Os criminosos se passavam por funcionários bancários e induziam as vítimas a instalar aplicativos maliciosos, permitindo acesso remoto aos dispositivos. Uma das vítimas, uma idosa de 60 anos, teve R$ 340 mil subtraídos de sua conta bancária. A operação resultou na prisão de cinco indivíduos em São Paulo.


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