ARTIGO – Criminalidade em alta: Brasil ainda investiga com lupa em um mundo digital sem controle
Em artigo publicado no Correio Braziliense, o presidente do Sinpol-DF, Enoque Venancio de Freitas, faz um alerta contundente: enquanto a criminalidade avança no ambiente digital, o Estado insiste em estratégias ultrapassadas, baseadas apenas no policiamento ostensivo.
A falta de investimentos em investigação, tecnologia e inteligência tem custado caro à sociedade. Crimes digitais, como estupros virtuais, aliciamento de menores e desafios letais, crescem sem que o Estado tenha a estrutura necessária para combatê-los com eficiência.
Nesse cenário, é urgente valorizar os policiais civis, profissionais altamente capacitados e constitucionalmente responsáveis por rastrear dados, seguir o dinheiro, coletar provas digitais e desmantelar redes criminosas.
São esses servidores que estão na linha de frente das investigações — tanto nos crimes cibernéticos quanto nos casos que impactam diretamente a vida cotidiana da população. Sem reconhecimento, estrutura e remuneração adequados, o combate ao crime segue comprometido.
Leia o artigo completo no site do Correio Braziliense e entenda por que investigar é proteger vidas.
Por Enoque Venâncio de Freitas* — Quando nove em cada 10 brasileiros afirmam temer a criminalidade — como revelou o Atlas/Bloomberg em março de 2025 — o problema deixa de ser estatístico e se impõe como uma urgência nacional. A violência já supera temas, como economia e saúde na lista de preocupações da população, mas apesar disso, o Brasil segue com foco no flagrante, não na inteligência investigativa.
A mais recente pesquisa Genial/Quaest, de abril deste ano, confirma essa percepção: 29% da população já aponta a violência como o principal problema do país — quase o triplo em comparação ao ano anterior. Não se trata de uma percepção isolada, mas de um clamor coletivo por respostas estruturais que vão além do policiamento ostensivo.
Enquanto crimes complexos se multiplicam no ambiente digital, o Estado continua priorizando a presença ostensiva nas ruas. Mas o perigo, hoje, está também nas nuvens — e cresce em velocidade alarmante. Estupros virtuais, por exemplo, seguem sem uma legislação específica que permita combater de forma eficiente os agressores.
Casos de violência contra vulneráveis, aliciamento de menores e a propagação de desafios letais nas redes sociais tornaram-se rotina. Em abril, Sarah, uma menina de apenas oito anos, perdeu a vida no Distrito Federal após participar de um desafio na internet que incentivava crianças a inalar desodorante aerossol. O caso, investigado pela 15ª DP, ilustra com brutalidade a ausência de controle no ambiente digital.
Esses crimes podem ainda não integrar plenamente a engrenagem das organizações criminosas mais estruturadas — que hoje operam de forma mais acentuada com fraudes bancárias, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro virtual em tempo real. Mas o risco é evidente: sem investigação qualificada, esses delitos tendem a migrar para o aparato do crime organizado, ganhando escala, sofisticação e blindagem, como já ocorre em casos de delitos cibernéticos patrimoniais.
O crime organizado já domina ambientes digitais, inclusive, utilizando-se de atividades lícitas para lavagem de dinheiro — e a tendência é de expansão, se não houver resposta institucional imediata.
Ignorar a investigação como política de Estado é permitir a continuidade dessa escalada. E, sem investimento em tecnologia, capacitação e valorização das polícias judiciárias — civis e federal — continuaremos enxugando gelo.
Somos as únicas instituições com atribuição constitucional e preparo técnico para rastrear dados, seguir o dinheiro, coletar provas digitais e desmantelar redes criminosas. Mas, para isso, é urgente a construção de um Plano Nacional de Investigação que priorize a formação contínua em cibercrime e o fortalecimento das carreiras investigativas, por meio de remuneração condizente e aumento efetivo de pessoal dedicado a essas frentes.
Investigar custa menos do que patrulhar eternamente. Mais do que nunca, o Brasil precisa enxergar além do imediato. Valorizar a investigação é proteger vidas — inclusive, as que ainda estão descobrindo o mundo, como a da pequena Sarah, vítima de uma rede social sem freios e de um Estado que ainda investiga com lupa em um cenário onde o crime já opera por fibra óptica. É hora de investir, sem hesitação, em quem realiza o trabalho de investigação.
Policial civil e presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal*
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