O presidente da República, Jair Bolsonaro, está em uma corrida contra o tempo para garantir a tramitação da reforma da Previdência. O objetivo é terminar as animosidades com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, depois de alguns dias de troca de críticas. Uma das primeiras ações veio logo pela manhã, com uma reunião entre o chefe do Executivo e os ministros. Segundo participantes do encontro, a ordem é acalmar os ânimos entre os poderes em nome da PEC da Previdência. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi um dos primeiros a começar o trabalho, ao almoçar com Maia e com Davi Alcolumbre, presidente do Senado, a fim de “pacificar” a relação com o Congresso. Em um pedido direto de Bolsonaro, Onyx se encontrará também com os líderes dos partidos.
No fim do dia, o porta-voz da Presidência da República, general Otávio do Rêgo Barros, foi bastante questionado sobre o abalo nas relações institucionais, mas seguiu a cartilha combinada. Falou do almoço entre Onyx, Maia e Alcolumbre e reforçou que a “nova Previdência está estruturada em quatro pilares fundamentais: combate às fraudes e redução das ações judiciais; modernização do processo de cobrança de dívidas; equidade e criação de novo regime de capitalização para as novas gerações”. E garantiu: “O nosso presidente se coloca ao lado do Congresso para trabalhar em prol da aprovação da reforma”.
Até outra “briga” entrou na ordem do dia, a fim de diminuir a temperatura entre Planalto e Congresso. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, foi questionado sobre a discórdia com Maia em relação ao projeto anticrime. “Nós temos um bom relacionamento. Houve algumas declarações ásperas, mas isso é absolutamente superável, isso é normal. Como se diz, depois da tempestade vem a bonança e há plenas condições de dialogar e construir juntos uma agenda sobre a liderança do presidente Jair Bolsonaro”.
A Câmara retoma hoje a rotina, com grande suspense para os próximos passos em relação à reforma. O presidente se mantém irredutível e diz, para integrantes da equipe, que não vai se render à velha política do toma lá dá cá. A expectativa é de que o relator da proposta que altera as regras previdenciárias na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) seja escolhido até o fim desta semana. O próprio Maia segue um discurso de reconciliação. Em entrevista ao blog da jornalista Andréia Sadi, ele afirmou que a reforma previdenciária está “acima do governo” e que está decidido a “blindar” a PEC para que ela seja aprovada. Afirmou que defenderá na Casa a manutenção do decreto anunciado por Bolsonaro que libera o visto para turistas norte-americanos e de outros países.
Envolvimento
O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, rebateu, nesta segunda-feira (25/3), em um encontro com prefeitos, em Brasília, as críticas em relação à organização do governo. “A articulação política é da Casa Civil. Vários deputados ajudarão neste processo, e o próprio ministro Paulo Guedes. O presidente Bolsonaro já está envolvido. Ele tem repetido e reiterado seu compromisso com o projeto. Ele tem liderado, dentro do governo, essa situação de aprovar a nova Previdência”, disse.
Marinho alegou que Bolsonaro está engajado com a reforma e que leva mensagens sobre a importância da aprovação ao Congresso. “O presidente da República anunciou publicamente o seu compromisso com a reforma da Previdência, inclusive a essencialidade desse projeto. Tem colocado e reiterado a sua disposição. Isso tem sido comum, inclusive, nos agentes públicos do próprio parlamento. Ouvimos o presidente da Câmara também se comprometer com esse projeto. Essa é uma pauta essencial para o país. Não é apenas do governo: é da sociedade”, disse (Leia mais sobre o encontro com os prefeitos na página 3).
Bolsonaro participou, no início da noite desta segunda-feira (25/3), da cerimônia de assinatura de contratos de concessão de linhas de transmissão, no Palácio do Planalto. Mas evitou comentários sobre o desgaste com o Congresso. Fez um discurso protocolar de pouco mais de três minutos, no qual disse que o leilão, realizado no ano passado, ainda no governo de Michel Temer, só foi exitoso graças a ações do seu governo, e deixou o Salão Leste. Ele também falou sobre as viagens aos Estados Unidos e Chile, na semana passada. “Viajei para aprofundar as relações, além de trazer mais confiança para expandir os investimentos. É neste cenário que entra a nossa proposta de uma nova Previdência, mais justa e mais igualitária, que possibilitará o equilíbrio das contas públicas dos governos federal, estaduais e municipais. É o Brasil voltando a crescer”, finalizou.