Do O Globo 

BRASÍLIA — O episódio que culminou com o afastamento de quatro vice-presidentes da Caixa chamuscou o presidente Michel Temer, que só tomou a decisão depois de pressionado pela própria equipe econômica, e pode afetar projetos de interesse do próprio governo. Sob a ira de parlamentares de partidos responsáveis pela indicação dos nomes para os cargos, Temer terá menos margem de manobra para negociar apoio à reforma da Previdência. Além disso, integrantes da área econômica afirmam que ficará mais difícil conseguir a aprovação, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), do empréstimo de R$ 15 bilhões do FGTS para a Caixa, que precisa de adequar às novas regras prudenciais do mercado financeiro para ampliar sua carteira de crédito.

Segundo integrantes da equipe econômica, um fator de instabilidade para a liberação do dinheiro do Fundo de Garantia para a Caixa é o fato de que a vice-presidente afastada Deusdina dos Reis Pereira é representante do banco no Conselho Curador do FGTS. Os técnicos alegam que as suspeitas envolvendo a executiva podem acabar atrasando tanto a aprovação do empréstimo do Fundo à Caixa como a decisão do TCU sobre o caso, já que a Corte de Contas abriu investigação para apurar a operação.

Ao mesmo tempo, a despeito das reclamações de partidos da base aliada, insatisfeitos com a possibilidade de perderem o poder de nomear indicados na Caixa Econômica Federal – o que poderá afetar ainda mais a reforma da Previdência – ministros do Palácio do Planalto dizem que o presidente Michel Temer passará a seguir a Lei das Estatais. Por essa lógica, dizem interlocutores de Temer, a estatal vai ter que se adequar à legislação, passando a fazer indicações técnicas para os cargos-chave. Custe o que custar.

— A Caixa vai mudar — disse um dos ministros mais próximos ao presidente, que completou: — Ela vai ter que se adequar à Lei das Estatais

Após o desgaste de ser pressionado pelo Ministério Público Federal (MPF) a afastar executivos investigados, o governo resolveu antecipar uma mudança estrutural na Caixa e deve deixar de escolher os vice-presidentes da instituição, atribuição hoje do presidente da República, prerrogativa que deverá passar a ser do presidente do Conselho de Administração do banco. A alteração deve ocorrer nesta sexta-feira.

 

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