A agente de polícia Deise Luci trabalha, atualmente, na 17ª DP (Fotos: Heloísa Abreu/Sinpol-DF)

Da Comunicação Sinpol-DF

Com a medalha “Mérito Segurança Pública do Distrito Federal”, a agente de polícia Deise Luci de Andrade se consolida como a policial civil mulher mais premiada da Polícia Civil do DF (PCDF). A premiação – conhecida como Medalha Tiradentes e considerada uma das maiores honrarias do Governo de Brasília – foi concedida no último dia 5 de dezembro e coroa uma trajetória de quase duas décadas de um trabalho exemplar em defesa da população brasiliense.

A medalha é entregue pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) normalmente a policiais aposentados durante o ano. No entanto, além do histórico profissional, Deise foi selecionada pelos serviços prestados, especificamente, à Seção de Atendimento à Mulher (SAM) da 17ª Delegacia de Polícia (DP), em Taguatinga Norte – sobretudo pelo destaque do projeto “Caminho das Flores”, desenvolvido entre março e abril de 2018.

Idealizado por Deise e colocado em prática graças a uma extensa rede de apoio, dentro e fora da delegacia, o projeto teve duração de 53 dias – entre 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a 30 de abril, Dia Nacional da Mulher. A iniciativa incluiu inúmeras ações de proteção e valorização da mulher, divididas em duas frentes de trabalho: uma estritamente policial e outra de integração comunitária.

Com o envolvimento geral da delegacia, sobretudo da Seção de Polícia Comunitária (SPCom), houve dias específicos de atendimento preferencial à mulher vítima de violência, mutirões de inquéritos policiais e mutirões de visitas a mulheres idosas vítimas de violência, além de outras ações.

“Nós decidimos trabalhar também a questão do protagonismo, do empreendedorismo e da autoestima das mulheres da região”, conta a agente. Ao todo, foram 14 ações comunitárias, incluindo apresentação teatral, sarau poético, workshops, oficinas, palestras sobre violência doméstica e a Lei Maria da Penha. Para isso, a 17ª DP contou com parceiros como a OAB, a Associação Comercial e Industrial de Taguatinga (ACIT), o Conselho Comunitário de Segurança e o Conselho Tutelar.

Confira o vídeo institucional sobre o Caminho da Flores.

PREVENÇÃO E VALORIZAÇÃO

No encerramento do projeto, houve também a inauguração, na Administração Regional de Taguatinga, do Espaço da Mulher. O local foi criado para oferecer uma série de serviços para as mulheres da comunidade, a exemplo de atendimentos jurídico, psicológico e social, oferta de cursos e oficinas, além do encaminhamento para os demais serviços da rede de proteção à mulher.

Quebrando paradigmas, o espaço também conta com o atendimento ao agressor e com rodas de conversa voltadas aos homens. “O agressor precisa entender em que contexto ele está inserido. Pois, quando agride uma mulher, ele desestrutura toda a família, compromete a autoestima e, por vezes, até a capacidade que ela tem para cuidar dos filhos, de si e da carreira”, ressalta Deise Luci.

O “Espaço da Mulher”, uma das ações do projeto, foi expandido para as administrações de Sobradinho e Samambaia

Ela explica que uma mulher violentada tem que receber uma gama de serviços do Estado, para que resgate sua dignidade, envolvendo ações da Saúde, da Polícia e do Judiciário. “Por isso, é preciso investir na prevenção em todos os aspectos possíveis e a informação é um importante instrumento. Quanto mais instrução a pessoa tem, mais ela se torna crítica da sua realidade”, opina.

Segundo Deise, o Caminho das Flores deu tão certo que o Departamento de Polícia Circunscricional (DPC) da PCDF pretende estendê-lo às demais delegacias a partir de 2019. Mesmo antes disso, já começou a expansão do Espaço da Mulher para outras regiões administrativas. “Foi criado um em Sobradinho, em Samambaia há um em fase de finalização e existe, ainda, proposta também para criação de outro em Ceilândia”, afirma a policial. “A nossa intenção é que todas as regiões administrativas tenham um Espaço da Mulher”, revela.

DIFERENCIAIS

Honraria foi concedida a Deise no dia 5 de dezembro

Ao longo das duas décadas de trabalho na Polícia Civil, Deise sempre tomou como prioridade a aproximação com a comunidade. Com cinco pós-graduações, incluindo Gerência de Projetos, Gestão em Segurança Pública e Polícia Comunitária, o sucesso do projeto criado por ela, certamente, não é um acaso.

A agente de polícia conta que o objetivo basilar é “fazer valer a Constituição Federal, que coloca a Segurança Pública como responsabilidade de todos”. Além disso, ela enxerga o bom trabalho como uma forma de promoção positiva da imagem da instituição e de valorização dos direitos humanos.

“Todo o trabalho da Seção de Atendimento à Mulher, desde o momento que acolhe a vítima, à apuração das denúncias, até o encaminhamento da investigação policial para judiciário, representa o fortalecimento e a garantia dos direitos humanos a um dos grandes grupos ainda vulneráveis no Brasil”, analisa Deise Luci. “Mas aqui, até o autor é bem atendido”, garante.

“Há duas coisas principais que eu prezo no meu trabalho: qualidade e imparcialidade”, afirma. “Eu não estou aqui para fazer julgamento, já que não sou juíza. Como policial, o meu papel ir em busca da verdade. E há, sim, casos de notícias de violência contra mulher que, quando apuradas, descobrimos que eram falsas. Além disso, antes de ver a pessoa como agressor ou como vítima, eu vejo como um ser humano”, pondera.

RECONHECIMENTO

Por todo esse cuidado, não é de se espantar que Deise tenha tantos reconhecimentos públicos do seu trabalho. Em fevereiro 2008, ela foi premiada, em nível nacional, por ter desenvolvido uma das 12 melhores práticas do país em Polícia Comunitária. Na ocasião, apesar da expectativa, a medalha Mérito Segurança Pública do DF não veio; só agora, dez anos depois.

“Eu fiquei extremamente emocionada”, conta sobre a cerimônia realizada no início do mês. “Então, para mim, receber uma medalha dessas serve de estímulo, de incentivo. Serve de bandeira de luta para aquilo que nós acreditamos ser o fazer da Segurança Pública, com transparência, com qualidade”, explica a policial.

Nesse meio tempo, entretanto, não foram poucas as honrarias. Em 2017, ela recebeu o colar Marechal Deodoro da Fonseca – fato noticiado pelo Sinpol-DF à época. Antes disso, vieram também diversas moções de louvor, homenagens de honra ao mérito, personalidade destaque e personalidade da cidade, além de inúmeros elogios em folha por desempenho profissional.

Mas ela ainda sonha com a medalha da Polícia Civil e a de Cidadã Honorária de Brasília – não como oportunidades de promoção pessoal, mas como um justo coroamento dos esforços, da luta e da resistência que fazem parte da sua história. “Eu não entrei na Polícia como escada, para depois tentar outra carreira. Ser policial foi um projeto de vida”, afirma Deise. “É isso que eu gosto de fazer, então não importa o tempo, não importam as dificuldades, as resistências, os ciúmes. O tempo mostra quem você é”, assegura a policial civil.

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