(Foto: Arquivo Pessoal)

Celma Lima*

Mais um caso de suicídio de um operador da Segurança Pública vem à tona nesta terça, 7, no Distrito Federal. Desta vez, um policial militar tirou a própria vida após matar a esposa, por volta das 10h, no Riacho Fundo II.

Este é o terceiro caso de feminicídio no DF em apenas dois dias e acontece no dia em que a Lei Maria da Penha completa 12 anos.

É, ainda, o segundo suicídio de um policial em menos de um mês – no dia 19 de julho, um agente de polícia da PCDF tirou a própria vida em Samambaia.

À família do PM e de sua companheira, assim como aos amigos do casal, a diretoria do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF) manifesta total solidariedade e lamenta profundamente pela tragédia que, ainda por cima, deixa órfãs duas crianças – um menino de 11 anos e uma garota de oito.

Esse fato lamentável, porém, também recai sobre o Governo do Distrito Federal (GDF) e levanta, mais uma vez, a questão da falta de investimentos em Segurança Pública, de duas maneiras: a falta de políticas públicas de enfrentamento aos casos, cada vez mais frequentes, de violência sofrida pelas mulheres e, em um segundo aspecto, a total falta de atenção à saúde mental dos servidores da Segurança Pública.

Vários são os gatilhos que podem desencadear situações extremas como a do PM. O estresse inerente à atividade policial se reflete diretamente no ambiente familiar, agindo como um catalisador em outras situações de crise.

Ainda que não tenha propriedade para trazer à tona como é a realidade da Polícia Militar do DF (PMDF), a Polícia Civil pode, sem dúvida, ilustrar a falta de atenção à saúde mental por parte da Secretaria de Segurança Pública e, da própria corporação, nos últimos anos.

Recentemente, um laudo emitido pela Psiquiatria da Policlínica da PCDF recomendou a internação imediata de um policial civil que apresentava “risco de autoextermínio” decorrente de “episódios depressivos, alternados com crises de ilação do humor e alteração de comportamento”.

Mesmo assim, a instituição lavou as mãos para o problema, ainda que o GDF possua convênio com clínicas psiquiátricas. Coube ao Sinpol-DF, a pedido da família, providenciar a internação desse colega enquanto, em outra via de atuação, o sindicato acionou a Justiça para garantir a internação custeada pelo governo.

A decisão obrigando o GDF a internar o policial civil, lamentavelmente, ainda não foi cumprida.

É necessário que aqueles que comandam a Segurança Pública, bem como o governo, enxerguem as consequências da falta de atenção à saúde mental dos policiais civis, militares e bombeiros.

Não é novidade alguma, nesse meio, o silêncio que se instaura sobre os problemas mentais desses servidores, como se o fato de não se falar sobre eles minimizassem as suas consequências.

Na ocasião do suicídio do agente de polícia, há cerca de três semanas – mesmo período em que o Sinpol-DF publicou uma reportagem sobre a falta de assistência à saúde mental na PCDF na revista institucional que distribui para os sindicalizados –, o assunto gerou grande repercussão.

Diversos foram os relatos de policiais que já enfrentaram, ou ainda enfrentam, problemas de ordem psicológica ou psiquiátrica e não encontram apoio institucional.

É necessário, ainda, que o GDF entenda que investir em Segurança Pública é, antes de tudo, evitar os prejuízos que a falta dela pode trazer – e o impacto recai sobre todos.

* Celma Lima é perita papiloscopista e diretora do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF)

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