Da Comunicação Sinpol-DF
As equipes de plantão não são exclusividade das delegacias de polícias. No Instituto de Identificação (II) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), dezenas de peritos papiloscopistas se revezam, todos os dias, para realizar centenas de perícias – coletando materiais e impressões digitais em locais de crimes que serão necessárias para a análise e identificação, assegurando a posterior prisão dos criminosos.
É um trabalho exaustivo: em geral, eles iniciam o plantão a partir de uma lista com cerca de 50 perícias a serem realizadas pelas cinco equipes de plantonistas.
Com uma ou até duas horas atuando em cada caso, o acúmulo de trabalho é inevitável, apesar do enorme esforço. “Nós tentamos otimizar os deslocamentos e as próprias perícias, para que o máximo de locais seja feito diariamente, mas, como a criminalidade no DF tem aumentado muito, o volume de trabalho também é muito grande”, revela a perita papiloscopista Ana Carolline de Toledo.
“É desgastante para caramba”, concorda Moises Andrade, “já que muitas vezes somos submetidos às intempéries, a locais insalubres e perigosos”. O perito papiloscopista relata que, constantemente, é preciso passar horas em um local de crime ou no pátio da delegacia, em pé, trabalhando no sol da tarde ou enfrentar sereno e chuva, pois os carros estão em áreas descobertas nas circunscricionais. Até micoses o trabalho já lhe rendeu.
Por outro lado, graças a essa atuação técnica e especializada, grande parte dos crimes registrados no DF tem a autoria identificada. “Apesar de tudo, é um serviço que eu gosto e que não trocaria por nenhum outro”, pontua Moisés. “A perícia papiloscópica é apaixonante porque você dá um resultado claro e objetivo para a sociedade, identificando o criminoso e levando à sua prisão. Isso não tem preço”, assegura.
Um exemplo recente desses resultados positivos foi um caso de furto em uma loja de celulares no Terraço Shopping. Moisés passou quase três horas para periciar todo o local em busca de fragmentos das impressões digitais e conseguiu apontar a participação de um dos integrantes da quadrilha.
Resultados desse tipo permitem, por exemplo, que os agentes de polícia da delegacia encarregada façam a análise de vínculos, chegando, inclusive, aos demais autores do crime.
ATUAÇÃO
No caso do plantão, além do perito papiloscopista, a equipe para a perícia em local de crime é formada também por um agente de polícia e um perito criminal. As equipes se dividem por turno e cobrem diferentes áreas do DF. Além da lista de pendências, eles podem ser direcionados, de forma prioritária, para casos específicos. Assim ocorreu com Ana Carolline em uma ocorrência de furto em uma creche do Itapoã.
“Eu estava me arrumando para ir para o plantão quando vi o caso sendo noticiado na televisão”, relata a perita papiloscopista. “Eu fiquei super chateada com a situação porque era uma creche mantida por iniciativa privada que cuidava de crianças carentes, filhas de mães solteiras. Os autores entraram e levaram instrumentos musicais, computadores, eletrodomésticos, livros, mantimentos, absolutamente tudo”, lembra.
Coincidentemente, ela acabou sendo incumbida daquela perícia. No local, conseguiu coletar impressões digitais em uma das janelas e encaminhou uma caixa de microfones, deixada para trás pelos bandidos, ao Laboratório de Exames Papiloscópicos do II – responsável pela recuperação de impressões digitais em superfícies mais complexas. Tanto as digitais da janela quanto a da caixa recolhida no local renderam identificações positivas.
Ana Carolline também atuou em outro furto em loja de celular, desta vez no Brasília Shopping. Na época, final de 2016, ela tinha acabado de iniciar a carreira na PCDF e estava em treinamento, sendo acompanhada por um perito papiloscopista mais experiente, Gilson Rodrigues Marques. Com acesso às filmagens do circuito interno, eles conseguiram encontrar locais improváveis de se deixar impressões digitais, como o piso da loja. Notando que, em determinado momento, o autor se apoiou no chão, eles recolheram ali a impressão palmar dele e, mais uma vez, houve sucesso na identificação.
DESGASTE
Além do trabalho in loco, diariamente as equipes do plantão também se revezam, realizando, no pátio do Departamento de Polícia Especializada (DPE), a perícia para ocorrências de furto em interior de veículo. Em casos assim, quando a vítima faz o registro da ocorrência na delegacia, ela recebe um memorando e é orientada a levar o carro para a análise pericial no DPE.
“É um número elevado de veículos e, muitas vezes, você sai depois do horário do expediente”, afirma Moisés. Segundo ele, já houve casos de um único policial fazer até mais de 18 perícias em um só dia. “Em vários momentos, nós ficamos realmente sobrecarregados, principalmente na segunda-feira, por conta das ocorrências do fim de semana, depois de algum feriado e de grandes festas na cidade, por exemplo”, explica.
Além do desgaste físico, o trabalho traz também uma forte carga emocional: em cada local de crime, esses profissionais ouvem os relatos de pessoas que, muitas vezes, tiveram a privacidade rompida e sofreram os mais diversos tipos de violência e traumas. “Lidar rotineiramente com a realidade de pessoas humildes que tiveram todos os seus bens roubados e ficaram sem absolutamente nada ou que foram violentadas dentro da própria casa, por exemplo, é algo que nos afeta”, reconhece Ana Carolline.
“Por outro lado”, pondera, “quando obtenho um resultado positivo, eu me sinto muito útil – esta é a palavra. O policial tem um papel muito delicado, que ocorre quando todo o Estado falhou. Então, quando identificamos e prendemos um criminoso, nós ficamos extremamente satisfeitos em conseguir minimizar um pouco a injustiça feita”, ressalta.
DESFECHO
Nadiel da Costa é outro perito papiloscopista que também tem alcançado resultados bastante significativos. Ele não é do plantão, mas tem atuado de forma semelhante, voltado, no entanto, especificamente à Delegacia de Repressão a Roubos e Furto (DRF).
Naquela unidade, por meio de uma ordem de missão, ele atuou em todas as recentes investigações de explosões de caixa eletrônico – realizando, por exemplo, a perícia papiloscópica tanto das agências atingidas quanto dos carros envolvidos nesses crimes.
Para isso, além do expediente normal na delegacia, ele fica de sobreaviso, podendo ser chamado a qualquer horário do dia ou da noite, inclusive aos finais de semana. Além de enviar as digitais que encontra para o Instituto de Identificação, onde é feito o tratamento e a busca no Sistema Automatizado de Identificação Digital (Afis, na sigla em inglês), Nadiel também é responsável pelo confronto daquelas impressões com as que ele mesmo coletou em outras ocorrências, apontando, assim, os demais casos em que o autor ou a quadrilha estiveram presentes.
Ele afirma preferir esse modelo de trabalho porque lhe permite um foco maior em cada caso e uma maior liberdade de tempo para a realização da perícia. “Eu me empenho ao máximo para encontrar as impressões digitais e descobrir a autoria porque, caso contrário, aquele bandido continuará agindo em liberdade, trazendo ainda mais casos em que terei que atuar, sem contar todo o prejuízo à sociedade”, analisa Nadiel.
Assim como os plantonistas, para ele a quantidade de trabalho não é pouca. Em um só caso, por exemplo, ele chegou a periciar duas casas e três carros, resultando no maior número de laudos de identificação em uma única ocorrência na história do II – com 18 laudos positivos, que, por sua vez, levaram à prisão de todos os envolvidos. Em 2016, ele conseguiu a identificação positiva em mais de 70% dos casos que periciou. No 1º semestre de 2017, afirma, que o número chegou a 90%, não havendo esse mesmo desempenho no 2º semestre, pois com a troca do AFIS da NEC o resultado foi de apenas 10%.
DIA DO PAPILOSCOPISTA
Esta é a última da série de três matérias destacando o trabalho dos peritos papiloscopistas. Uma iniciativa do Sinpol-DF em alusão ao Dia do Papiloscopista, comemorado nesta segunda, 5 de fevereiro. Leia também as outras duas: