Da Assessoria de Imprensa
Durante a última semana, a prisão do ex-deputado federal e ex-ministro Geddel Vieira Lima, após a apreensão de R$ 51 milhões de reais em um apartamento em Salvador-BA, tomou conta dos noticiários.
As reportagens destacaram que fragmentos das digitais de Geddel foram localizadas nos sacos plásticos que embalavam os maços de dinheiro, o que sustentou a sua prisão.
Os fragmentos foram tratados e, após análise em um sistema chamado Afis, utilizado pela Polícia Federal e diversas outras polícias do mundo, apresentou como suspeito a pessoa de Geddel Vieira Lima.
Os peritos papiloscopistas federais analisaram a digital de Geddel e o fragmento encontrado no apartamento e atestaram que o ex-deputado havia manipulado os sacos plásticos que envolviam o dinheiro.
Fragmentos são partes de uma digital. Não são aquelas digitais completas que aparecem nas carteiras de identidade, e sim um pedaço delas. Um programa de busca – software – aprimorado pode auxiliar no processo de identificação, levando-o a ser executado em minutos.
Poucas empresas de biometria no mundo detêm essa tecnologia. A Polícia Federal tem essa tecnologia, porque contratou, por meio de licitação, uma das melhores empresas de biometria, voltadas para a identificação criminal, do mundo.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) também dispunha dessa tecnologia e conseguia identificar, em alguns minutos, vários fragmentos de digitais de suspeitos em locais de crime.
A partir do começo de junho, no entanto, as empresas que prestavam esse serviço para a PCDF foram substituídas e um novo contrato – emergencial – foi assinado. Desde meados de julho até o final do último mês de agosto, o sistema ficou fora do ar.
As melhores empresas de biometria do mundo, na área de identificação criminal, não quiseram participar do certame. A razão foi uma só: a PCDF retirou as exigências que mantinham um padrão de qualidade e excelência que o Instituto de Identificação (II) vinha mantendo e que as empresas oferecem.
A retirada destas exigências, tais como a realização de testes e a certificação de que a empresa já realizava trabalhos na área de identificação criminal, permitiu que uma empresa concorresse sozinha.
A empresa contratada já havia sido reprovada nos testes de identificação civil e criminal em maio de 2016, em teste que foi realizado por seis perito papiloscopistas do próprio II da PCDF.
A mesma empresa também já havia tentado realizar identificação criminal em Goiás e Tocantins. Mas, em razão da falta de expertise, as polícias daqueles estados a rejeitaram. A empresa vencedora no DF, portanto, não possui atestado comprovando sua experiência no segmento de identificação criminal.
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Pelo que se sabe, passados dois meses de contrato, o sistema atual implantado no II só consegue identificar suspeitos se as digitais encontradas no local do crime estiverem muito boas, ou seja, quase perfeitas.
Esse não era, por exemplo, o caso do apartamento de Salvador. Se fosse depender do programa utilizado pela PCDF, Geddel poderia permanecer impune.
No último mês foram feitos no Instituto de Identificação da PCDF apenas 74 laudos de perícia criminal no período. Todos os 74 laudos são “de confrontos”, ou seja, oriundos de flagrantes e/ou situações onde a Delegacia de Polícia (DP) fornece os nomes dos suspeitos.
Os confrontos foram feitos pelos peritos papiloscopistas de forma manual, sem o uso do sistema Afis que ficou inoperante por mais de 50 dias.
Nos corredores da Polícia Civil, os rumores são de que há digitais de um influente político da base do governo nessa contratação emergencial da PCDF.