A luta pela manutenção da isonomia entre a Polícia Civil do DF e a Polícia Federal, empreendida há mais de um ano, e as reivindicações por melhorias nas condições de trabalho dos policiais civis do DF deram o tom da Sessão Especial pelo Dia do Policial Civil, realizada na última segunda, 17.
O evento, alusivo ao dia 21 de abril, data comemorativa da categoria e também aniversário de Brasília, foi promovido pelo gabinete do deputado distrital e policial civil Cláudio Abrantes (Rede), em parceria com o Sinpol-DF e ocorreu no auditório da Direção Geral da PCDF.
Na oportunidade, 77 policiais civis, aposentados e da ativa, receberam, como forma de homenagem, uma menção honrosa concedida pela Câmara Legislativa do DF (CLDF) e pelo Sinpol-DF em reconhecimento aos serviços prestados à sociedade por meio do trabalho desempenhado na instituição.
Os participantes da solenidade também exibiram uma fita preta, atada ao braço, em sinal de protesto aos deputados distritais da CLDF que quebraram o acordo com os policiais e desobstruíram a pauta de votação daquela casa na última sessão em plenário.
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CLDF
Na abertura da solenidade, Claudio Abrantes fez uma menção ao episódio da quebra da obstrução da pauta de votações da CLDF, que havia sido mantida por cinco semanas em apoio aos policiais civis e para pressionar o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) a enviar a mensagem que mantém a isonomia ao governo federal.
O distrital afirmou que a Câmara “poderia ter ajudado mais” na questão, mas ressaltou que a Casa será importante “no momento chave”. Mesmo concordando que não há motivos para comemorações, o parlamentar destacou que a luta é uma ação cotidiana da categoria que ele também faz parte e que a isonomia não deve sair da mira dos policiais civis.
“Em breve, essa luta terá uma vitória. Não joguei e não jogarei a toalha. Tenho, no meu coração, a esperança firme de que vamos resolver em breve. Essa vitória virá, sobretudo, pela força dessa instituição. O que nós devemos tirar desta semana de comemoração é de que, juntos e fortes, vamos manter nossa paridade”, assegurou Claudio.
REIVINDICAÇÕES
Já o presidente do Sinpol-DF, Rodrigo Franco “Gaúcho”, fez um discurso incisivo no qual cobrou, sobretudo, respeito e um posicionamento da PCDF em defesa dos policiais civis.
“Foi muito duro manter essa solenidade neste momento de crise. É uma crise interna e externa. Interna, porque falta gestão. Temos uma gestão que escraviza os policiais, que não atende a categoria nas mínimas coisas. Nós não temos nenhum pedido atendido. Essa é a realidade, há mais de dois anos. Não somos atendidos ou ouvidos, mas somos escravizados”, frisou.
Gaúcho listou problemas e reivindicações da categoria no âmbito institucional. Todos eles já foram cobrados reiteradamente pelo Sinpol-DF, mas estagnaram na má vontade da Direção Geral da PCDF: jornadas excessivas de trabalho, desvio de função, remoções utilizadas como “punição branca”, além da falta de reconhecimento das atribuições de nível superior e da criação do concurso de remoções – estes dois últimos foram discutidos em dois Grupos de Trabalho com representantes do Sindicato e da Polícia Civil, mas não houve progresso.
“Quis aproveitar essa oportunidade para falar com o coração e cobrar que nós sejamos ouvidos, reconhecidos e valorizados. É por isso que clamam nove mil famílias. Nós nunca vivemos uma crise tão grande. Hoje, a nossa PCDF está mais fraca do que nunca. Todo mundo nos ataca e ninguém nos defende. O Sindicato, muitas vezes, acaba tendo uma defesa da instituição maior do que a própria instituição”, pontuou o presidente do Sinpol-DF.
ISONOMIA
No caso da isonomia, Gaúcho teceu críticas à Câmara Legislativa e ao governador Rodrigo Rollemberg. “A Câmara Legislativa virou as costas para esta categoria. Sofremos uma derrota numa batalha cuja guerra não acabou. Iremos lutar até a nossa vitória. Dentro dessa atual gestão, não conseguimos nossa paridade. Não é só culpa da Direção Geral. É culpa de muita gente, mas de um governador que não tem palavra e nem caráter”, lamentou.
O presidente do Sinpol-DF concluiu o discurso ressaltando a importância da união da categoria. “Para esta Casa voltar a ser forte, precisa voltar a ser unida e valorizada”, destacou Gaúcho, que foi aplaudido de pé pelos policiais presentes na solenidade.
Na sequência, foi a vez do diretor-geral da PCDF, Eric Seba, manifestar-se. Ele tentou minimizar as críticas à gestão. As alegações dele, contudo, geraram reação dos policiais civis que estavam na plateia.
Seba tentou fazer uma mea-culpa ao mencionar que “em momento algum” tentou “enganar quem quer que fosse” quando defendeu a palavra do governador sobre a isonomia.
“Transmiti a palavra de chefe de estado, que deu uma garantia. Não está com o diretor essa obrigação. A situação da cidade não é boa. A situação do país é caótica. Esta conta não pode ficar nas nossas costas”, disse.
REMOÇÕES
Seba atribuiu o entrave dos dois GTs – dos concurso de remoções e das atribuições – à crise que a PCDF enfrenta, mas não sinalizou quando eles serão retomados. Ele informou que trabalha pela realização de um concurso com 2.100 vagas (1.750 para agentes de polícia e 350 para escrivães) e que a Polícia Civil está em processo de aquisição de 2.500 pistolas da marca Glock.
O diretor-geral negou que, sob sua gestão, haja remoções aplicadas como punição. “Não é da minha essência e índole fazer transferência punitiva ou punir ninguém. O que esteve ao alcance da Direção foi feito, mas não houve nenhuma punição. Não houve perseguição a servidor nem mesmo em manifestações que fugiram à hierarquia e respeito”, afirmou Sebba – imediatamente contradito pelos próprios policiais presentes, o que gerou um clima de desconforto.
Também participaram da solenidade Anderson Jorge Espíndola, subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e Paz Social, o vice-presidente do Sindepo-DF, Benito Tiezze, o presidente da Associação Brasiliense de Peritos Criminais (ABPC), Bruno Telles e Jane Klebia Reis, ex-secretária de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude e delegada da PCDF.
A solenidade foi encerrada com um coquetel, após a entrega das moções aos policiais homenageados.