A diretoria do Sinpol-DF participou nesta quarta, 20, de uma reunião na Fundação Cultural Palmares (FCP). O convite partiu da presidente da entidade, Cida Abreu, após conversa por telefone com o presidente do sindicato, Rodrigo Franco, o Gaúcho, sobre os possíveis impactos que a manifestação programada pelos policiais civis para esta quinta, 21, podem ter sobre a luta do movimento afrobrasileiro no combate à intolerância religiosa.
Além dos representantes daquelas duas entidades, participaram do encontro integrantes do Fórum Afrobrasileiro do DF (Foafro-DF), da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília e o secretário-adjunto de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do DF, Carlos Alberto Santos de Paulo.
Na conversa, Cida externou sua preocupação porque a criação da Delegacia Especializada de Combate à Intolerância Religiosa representa uma vitória diante de uma luta “de mais de 300 anos”. Além disso, segundo a presidente da FCP, a data escolhida é simbólica porque o dia 21 de Janeiro é o Dia Nacional Contra à Intolerância Religiosa em todo país – instituído em 2007 pela Lei 11.635.
Ela considera que a manifestação dos policiais civis pode “desconstruir” a causa. “Não queremos que um movimento desconstrua o outro. Por isso, não poderia deixar de dialogar com vocês e explicar que essa é uma vitória das religiões de matriz africana, não do governo”, ponderou Cida.
A presidente da FCP, por outro lado, disse reconhecer a importância do ato dos policiais civis. Ela se mostrou sensível à necessidade de efetivo adequado para que a delegacia se torne realidade. “Não somos contrários ao movimento de vocês, mas a uma fragilidade que ele pode causar no nosso. Compreendo as reivindicações, mas nossa preocupação é de como os dois atos vão se refletir na sociedade por meio da mídia”, acrescentou Cida.
FALTA DE DIÁLOGO
O presidente do Sinpol-DF, Rodrigo Franco, o Gaúcho, voltou a dizer o que já afirmou em outras ocasiões: a categoria não é contrária à criação da delegacia da maneira que ela está formatada, mas, sim, da possibilidade de ser mais um prédio vazio diante da pior crise de recursos humanos pela qual a Polícia Civil do DF (PCDF) tem passado desde 1993.
“Nós repugnamos todo e qualquer tipo de crime. Existe, sim, uma demanda para criação de delegacias. Mas nós queremos prestar um serviço de qualidade à sociedade. Nosso movimento é pacífico e não tem qualquer conotação de intolerância. O governador tem uma ótima oportunidade em mãos de nomear mais policiais, porque há essa necessidade”, reiterou Gaúcho.
Depois de tomar conhecimento de todo o contexto que envolve a criação da Delegacia Especializada de Combate à Intolerância Religiosa e o movimento afrobrasileiro, por meio de uma explanação da presidente da FCP e dos demais representantes das entidades, o presidente do sindicato criticou a postura do GDF e da Direção Geral da PCDF em levantar essa discussão sem convidar o sindicato a participar dela.
“Não houve uma preocupação em nos envolver nesse planejamento para que pudéssemos discutir a estruturação da delegacia. Houve falta de habilidade do governo ao nos deixar de fora das tratativas. Estivemos reunidos com o governador e com a Direção da PCDF no início deste mês e nada nos foi passado sobre a criação desta Delegacia, mais uma prova da indiferença com a qual vimos sendo tratados. Essa falta de diálogo nos colocou nessa situação delicada”, afirmou.
A vice-presidente do Sinpol-DF, Marcele Alcântara, também se manifestou contrária à maneira como a questão foi conduzida, excluindo os policiais civis. “Fomos alçados a reboque de uma situação que não entendíamos a complexidade. Não é novidade, para o governador, a situação da falta de efetivo na Polícia Civil em que nos encontramos. Não entendemos como fomos excluídos dessas discussões”, lamentou.
RESPONSABILIDADE
Além dela a primeira secretária e diretora de Comunicação Celma Lima e o diretor de Administração e Planejamento Marcos Campos reforçaram o posicionamento do sindicato sem, contudo, desconsiderar a importância da data para o movimento afrobrasileiro.
“Nós precisávamos saber como essa delegacia vai ser estruturada e como ela vai funcionar. A categoria cobra isso de nós e essa manifestação surgiu de um anseio da base, ao saber do fato, no início desta semana”, destacou Celma. “Nós respeitamos a criação dela, mas não podemos ignorar que os policiais civis estão adoecendo em função do baixo efetivo que leva à sobrecarga de trabalho”, reafirmou Marcos.
O secretário Carlos Alberto Santos de Paulo, representante do GDF, disse que a alta incidência de crimes de intolerância religiosa e racial justificam a criação da unidade. Ele relatou que há um compromisso de que a estrutura funcione “de maneira adequada” e que o governador Rodrigo Rollemberg declarou estar “trabalhando em um escalonamento de recursos humanos”.
“A delegacia pressupõe desdobramentos que exigem responsabilidade. Não queremos que seja apenas um ato”, justificou Carlos.
PARCERIA
Todos os participantes do encontro sugeriram estratégias que minimizem os possíveis prejuízos para ambos os lados. O Sinpol-DF reiterou que a manifestação será pacífica, sem qualquer prática que desmereça o significado que o ato desta quinta terá para os integrantes das religiões de matriz africana.
As duas entidades – sindicato e Fundação Cultural Palmares – combinaram, ainda, de discutir maneiras de atuar em conjunto. Para isso, após os eventos desta quinta, 21, serão agendadas novas reuniões.
Uma das sugestões do Sinpol-DF é desenvolver estratégias de capacitação para os policiais civis que atendem às ocorrências relacionadas à intolerância religiosa e racial, a fim de possibilitar melhor acolhimento às vítimas. “Estamos à disposição para formar parcerias com vocês. Queremos, sem dúvidas, trabalhar junto”, garantiu Gaúcho.
HISTÓRICO
O Dia Nacional Contra à Intolerância Religiosa foi criado para lembrar o ataque ao templo de Mãe Gilda, na Bahia, que foi depredado por fundamentalistas religiosos. O marido dela foi agredido. Abalada com o crime, a ialorixá sofreu um enfarte e faleceu, no ano de 2000.
A decisão do GDF em criar a Delegacia Especializada de Combate à Intolerância Religiosa veio em situação semelhante: após o ataque ao templo Ylê Axé Oyá Bagan, no Paranoá, incendiado em 27 de novembro do ano passado. O espaço era conhecido como Casa de Mãe Baiana – a quem pertencia o espaço. Já naquela época o Sinpol-DF se manifestou acerca da criação de uma nova delegacia.
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