Na sexta, 22, 70 pessoas fizeram fila no Posto de Identificação para solicitar a carteira de identidade (Fotos: Paulo Cabral/Sinpol-DF)
Na sexta, 22, 70 pessoas fizeram fila no Posto de Identificação para solicitar a carteira de identidade (Fotos: Paulo Cabral/Sinpol-DF)

O alto número de pessoas em frente à 1ª Delegacia de Polícia (DP), localizada na Asa Sul, não é mais novidade; é uma cena que se repete diariamente. São cidadãos que buscam o Posto de Identificação nº 02, que funciona no mesmo prédio, para solicitar a emissão do documento de identidade e enfrentam horas de espera.

Em razão do déficit de servidores que atinge toda a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), são poucos profissionais disponíveis para o trabalho. Por isso, o número de atendimentos é reduzido.

Na sexta, 22, por exemplo, cerca de 70 pessoas aguardavam na fila. Embora haja um cartaz de aviso indicando a disponibilidade de apenas 30 senhas, 50 foram distribuídas – o que denota a boa vontade dos servidores em atender à sociedade mesmo diante de condições de trabalho tão exaustivas.

Para garantir uma senha, as pessoas precisam chegar cedo. Por vezes, mesmo antes das 6h da manhã, a fila já começa a ser formada. Como o atendimento só é iniciado ao meio dia, durante todo esse período não resta muito a não ser aguardar em frente ao prédio.

SEM ATENDIMENTO

25.01.15 - Fila na 1DP para fazer carteira de identidade - Paulo Cabral (30)
Mesmo estipulando 30 senhas, servidores acabam se sobrecarregando e atendendo até o dobro de gente

Entre aqueles que passam pela experiência não se ouve elogios. “A gente tem que sentar no canteiro mesmo e passar horas aqui, porque não tem um local de espera”, critica a vendedora Fátima Araújo, que chegou à DP por volta de 6h30 da manhã para então conseguir a quarta posição na fila.

Essa já era sua segunda tentativa. No dia anterior, a última quinta, 21, ela chegou ao Posto de Identificação às 9h, mas acabou desistindo por causa da grande quantidade de pessoas que já aguardava. “É absurdo que a gente tenha que perder um dia de trabalho para conseguir a segunda via do RG”, analisa.

O sentimento é o mesmo do auxiliar de serviços gerais José Carlos Duarte. “A gente tem que passar a manhã inteira esperando pela senha e, depois que o posto abre, ainda tem o tempo do atendimento. Para quem é trabalhador, isso não faz sentido”, alega. “Qualquer um que passar aqui vai perceber que é preciso mais gente fazendo esse serviço”, conclui.

Na fila desde as 7h, a situação foi ainda mais difícil para Tatiane Vitorino, que tentava tirar a primeira identidade da filha Mariane, de um ano e 11 meses. “A estrutura aqui é completamente inadequada. Não tem banco para sentar, por exemplo”, relata.

“A gente fica horas na fila e não tem nem locais próximos onde a gente possa comprar algo para comer. Eu tive que vir com um verdadeiro kit para poder ficar tanto tampo esperando com a minha filha”, revela Tatiane.

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Atualmente, equipe tem apenas três papiloscopistas; grupo ficará com um a menos em fevereiro

Virgílio Almeida foi um dos que ficou de mãos vazias depois que as 50 senhas foram entregues aos primeiros da fila. O professor, que estava acompanhado da filha lamentou não ter conseguido solicitar a carteira de identidade de Nina, 13, pois o período de férias se encerra na segunda, 25. “Ter que voltar outro dia, agora, significa que ela terá que faltar aula”, afirma.

Para não faltar ao trabalho, a servidora pública Keicy Cavalcante decidiu ir à 1ª DP no horário de almoço, e também teve a viagem frustrada. “Como o posto não dá conta da demanda, só quem chega muito cedo consegue um dos atendimentos. A falta de pessoal é tão grande que não há alguém disponível nem para esclarecer as nossas dúvidas e orientar quem chega”, ressalta.

SERVIDORES

Os problemas no atendimento do Posto de Identificação se intensificaram depois que mais de 40 papiloscopistas da PCDF se aposentaram e os servidores comissionados foram dispensados.

Com isso, a equipe ficou com apenas três papiloscopistas, o chefe de Posto e uma funcionária de apoio. Somados a esses fatores, há o aumento da demanda nesse período que antecede o início do ano letivo das escolas e universidades.

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Posto funciona na 1º DP, que também é uma Central de Flagrantes; movimento constante de presos coloca população em risco

“Nós estamos com uma média de 60 atendimentos por dia. Cada papiloscopista acaba ficando com 20 atendimentos, quando o ideal seriam de 13 a 15”, explica o chefe Paulo Maurício.

Segundo ele, o grupo tem feito sacrifício para zerar a fila todos os dias. Nem sempre, porém, isso é possível. “Quando sobra gente, nós entregamos uma pré-senha e tentamos encaixar a pessoa ao longo do dia. Mas ainda há o atendimento prioritário”, ressalta Paulo.

Em fevereiro, o trabalho tende a ficar ainda mais difícil: um dos papiloscopistas vai sair de férias. Serão apenas dois deles na coleta das impressões digitais.

Paulo lembra que não só a população, mas a equipe de servidores também sofre as consequências. “Há o desgaste físico, mas o emocional também é forte porque há uma expectativa da população em ser atendida. Isso mexe muito conosco e gera estresse”, lamenta.

Lotado na 1º DP, o diretor de Comunicação adjunto do Sinpol-DF, Luciano Vieira, comenta que há outro fator a ser considerado: a 1º DP funciona, também, como uma Central de Flagrantes (Ceflag), o que torna o local inseguro para a população.

“A movimentação de policiais com pessoas presas é constante e ocorre por onde as pessoas se concentram em fila. Isso acaba expondo a todos, inclusive as crianças, pois há risco se um preso desse se rebelar”, explica. “As duas unidades deveriam funcionar separadas”, sugere Luciano.

CRISE DE PESSOAL

A diretora de Comunicação do Sinpol-DF e papiloscopista Celma Lima lembra que estão previstas cerca de 60 aposentadorias de papiloscopistas ainda neste ano, o que pode acarretar em mais problemas. “Em 2015 foi realizado um concurso para o preenchimento de cerca de 150 vagas para o cargo de Papiloscopista Policial, mas o concurso ainda está em andamento e a fase de formação na Academia da Polícia Civil está prevista para abril/16, o que implica dizer que as nomeações para o cargo podem se dar apenas em 2017”, adverte.

O sindicato já vem alertando ao governo das consequências da pior crise de pessoal pela qual a PCDF passa, mas sem ser ouvido. Na última quinta, 21, o sindicato realizou uma manifestação lembrando do agravamento dessa situação enquanto o Governo do DF decide abrir mais uma delegacia.

Atualmente, há um grupo de 425 aprovados (entre agentes de polícia e escrivães) no último concurso já formados pela Academia de Polícia Civil. Ainda que o número não supra nem a quantidade de aposentadorias em 2015, o governador Rodrigo Rollemberg anunciou a nomeação de 100 agentes de polícia e 20 escrivães para o final de fevereiro.

“Ainda que todas as nomeações pendentes sejam feitas, só será coberto parte do total de policiais recentemente aposentados. É um total muito distante da quantidade de cargos vagos na Polícia Civil do DF, que, hoje, ultrapassada os quatro mil”, observa Rodrigo Franco, o Gaúcho, presidente do Sinpol-DF.

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