Do Metrópoles
A delegada-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), Jane Klébia, classificou o assassino confesso Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, como um serial killer. Ele disse aos investigadores que matou Letícia Sousa Curado, 26, e Genir Pereira de Sousa, 47. A corporação colheu nesta segunda-feira (26/08/2019) depoimento de outra mulher, que afirma ser vítima dele. Ao reconhecer o agressor na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), ela começou a chorar e ficou inconsolável.
Segundo o depoimento da vítima, que tem 23 anos, Marinésio a abordou na Rodoviária do Plano Piloto e se apresentou como motorista de transporte pirata – chamados de “loteiros”. A jovem revelou que iria ao Vale do Amanhecer, e o suspeito disse que o local era um dos pontos de sua rota.
No meio do caminho, de acordo com a vítima, o suspeito a teria assediado e colocado a mão na perna esquerda da jovem. Neste momento, ele teria falado: “Nós não vamos para o Vale, vamos para o Morro da Capelinha”.
A vítima, então, entrou em desespero e ameaçou pular do carro. Chegou a abrir a porta e Marinésio parou o veículo. Ela aproveitou a oportunidade para descer do carro e correr, quando pediu ajuda para um casal em carro que vinha logo atrás.
O caso ocorreu no dia 11 de agosto deste ano, por volta das 20h. Quando a jovem reconheceu Marinésio na delegacia nesta segunda-feira (26/08/2019), ela se desesperou e chorou. Precisou ser amparada por agentes da PCDF.
Jane informou que revisará todas as ocorrências sem autoria conhecida da 6ª DP cujo modus operandi se assemelha ao dos crimes já atribuídos ao cozinheiro. “Estamos investigando. Um suspeito em potencial para diversos crimes desta natureza: corpos encontrados com sinais de estrangulamento, pessoas desaparecidas em paradas de ônibus e tentativas de estupro supostamente cometidas por um loteiro”, afirmou.
A Polícia Civil apura se Marinésio fingia ser motorista de transporte pirata para atrair e matar outras mulheres, além de Letícia, funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC), Genir e a moça de 23 anos que fugiu do agressor. Segundo o delegado-chefe da 31ª DP, Fabrício Augusto Machado, não estão descartadas as suspeitas de que o homem seja o autor de crimes semelhantes.
Genir Pereira de Sousa era funcionária de uma pizzaria, e o corpo dela foi encontrado em 12 de junho de 2019. Ela estava desaparecida desde 2 de junho. O cadáver estava em uma área de mata entre o Paranoá, onde ela trabalhava, e Planaltina, onde morava. O desaparecimento de Genir foi comunicado pela patroa dela, após a empresária, dona da referida pizzaria, estranhar as ausências da funcionária.
Abuso sexual
Ainda de acordo com o delegado Machado, há a possibilidade de Letícia ter sido abusada sexualmente. “Na carona que deu para ela, Marinésio parou o carro na DF-130 e teria perguntado se havia a possibilidade de os dois terem uma relação sexual, dando início a uma discussão. Ela começou a gritar e, naquele momento, segundo o relato dele, ele a teria esganado.”
Machado ainda não definiu os crimes pelos quais o assassino confesso responderá, mas fontes policiais informaram ao Metrópoles que, a depender das apurações, o suspeito pode ser indiciado por feminicídio, roubo, ocultação de cadáver e, se a perícia confirmar, violência sexual e estupro.
Marinésio foi preso nesse domingo (25/08/2019), dois dias após o desaparecimento de Letícia. De acordo com fontes policiais, o suspeito levou os investigadores ao local do crime. O cadáver estaria dentro de uma manilha perto da fábrica de sementes Pioneer, na DF-250. À PCDF, Marinésio teria dito que conhecia a vítima de vista. Relatou ter parado no ponto de ônibus e oferecido carona para a jovem até a rodoviária do Paranoá. Ela teria aceitado e, no caminho, o homem teria assediado Letícia, que recusou a investida.
O homem, então, teria esganado a funcionária do MEC até a morte e escondido o corpo dela em manilha situada às margens de uma estrada que fica na região do Vale do Amanhecer, em Planaltina. Após matar a mulher, confessou ter furtado os pertences pessoais de Letícia, segundo fontes da PCDF.
Há imagens de circuito de segurança que mostram Letícia entrando no veículo do acusado em uma parada de ônibus no Setor Arapoanga, após uma rápida conversa entre eles, de 10 segundos, na manhã de sexta-feira (23/08/2019).
O delegado Fabrício Paiva, chefe da 31ª DP (Planaltina), informou que a funcionária do MEC foi sozinha até a parada de ônibus, de onde seguiria para o trabalho, na Esplanada dos Ministérios. Ela havia combinado de almoçar com a mãe por volta das 12h. Como Letícia não apareceu, a família começou a ligar e mandar mensagem para a jovem.
“Ela não respondeu mais e as mensagens pararam de chegar ao celular da vítima”, disse o delegado. Por volta das 18h dessa sexta-feira, o professor de educação física Kaio Fonseca, marido de Letícia, foi à 31ª DP para denunciar o desaparecimento. A partir daí, a polícia começou a verificar onde a funcionária do MEC poderia estar. Trabalharam com algumas hipóteses – entre elas, surto psicológico e sequestro.
Na manhã de sábado (24/08/2019), os investigadores conseguiram imagens do circuito de segurança da região onde Letícia tinha desaparecido, em Planaltina. Uma vizinha relatou que teria visto a advogada entrando em um veículo – que seria um Gol de cor branca.
A polícia foi atrás da informação, mas não achou o carro citado pela testemunha. Quando os investigadores excluíram essa possibilidade, passaram a ver novamente as imagens de segurança do comércio local da região para identificar atitudes suspeitas. Constataram que um veículo de cor prata fez uma parada no ponto de ônibus em que Letícia estava. O automóvel passou no local uma vez, depois retornou.
Ao abordar o suspeito em via pública, que estava em uma Blazer prata de placa JFZ 3420-DF, os policiais encontraram, no porta-luvas do carro, uma bolsa, com fichário e material escolar, além de um relógio – objetos pessoais de Letícia. O celular da advogada estava atrás do banco do veículo. O cozinheiro afirmou, a princípio, que os itens encontrados foram comprados por ele.
No dia do desaparecimento de Letícia, Marinésio disse que foi levar a filha ao colégio. Depois, seguiu para a casa da irmã, por volta das 9h50. Não conseguiu explicar, porém, o que fez entre o momento em que Letícia sumiu e esse horário. Com indícios fortes de crime, a polícia conseguiu a prisão temporária do suspeito. O prazo é de 30 dias, podendo ser prorrogado por igual período.
Letícia foi abordada por volta das 7h42 da última sexta-feira (23/08/2019). “Ele [Marinésio] confirma que parou em frente à parada de ônibus, mas nega que Letícia tenha entrado no veículo. Disse que parou para um carro passar. Quando a polícia mostra as imagens, fica calado”, ressaltou o delegado Fabrício Paiva em coletiva de imprensa na manhã desta segunda.
Casado, pai de uma jovem de 16 anos, ele não tinha passagens pela polícia. O carro dele foi periciado. Marinésio disse em depoimento que não faz transporte pirata. Ressaltou, inclusive, não ter emprestado o veículo no dia do sumiço da jovem. No entanto, admitiu ter dado “algumas caronas”.
Mobilização da PCDF
Segundo o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF), a investigação do caso mobilizou muito mais agentes do que os lotados na 31ª DP: só no domingo, 50 deles, que participam de um grupo de WhatsApp, saíram à procura de Letícia. Esse trabalho resultou na prisão do suspeito.
Dezenas de diligências, com a participação de outras delegacias, foram realizadas a fim de encontrá-la com vida. No domingo, boa parte dos policiais civis que saiu em busca da vítima estava de folga.
Eles saíram de Brazlândia, Ceilândia, Taguatinga, Águas Claras e do Plano Piloto para vasculhar a zona rural de Planaltina, incluindo localidades de mata. Até aquele momento, o suspeito ainda não havia confessado o crime e não ajudava na localização de Letícia.