Do Metrópoles
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou, na manhã desta terça-feira (14/05/2019), uma operação que tem como alvo criminosos que roubavam motoristas de aplicativo. A ação é da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri).
São cumpridos três mandados de prisão preventiva, seis de temporária e 10 de busca e apreensão. Até as 8h50, sete pessoas haviam sido presas em Samambaia, Sobradinho, Taguatinga e no Guará. Segundo o coordenador da Corpatri, delegado André Leite, os criminosos não integram uma quadrilha, mas tinham o modo de agir semelhante. Os suspeitos fizeram ao menos 15 vítimas.
“Os autores solicitavam o carro por meio de seus próprios aparelhos celulares ou de outra pessoa que possuía o aplicativo instalado. Quando o motorista chegava ao local solicitado, eles entravam no veículo como se fossem realizar uma corrida normal. Em determinado ponto do trajeto, anunciavam o assalto e subtraíam o veículo e demais objetos do motorista”, destacou o delegado. Os bandidos usavam faca e arma de fogo para ameaçar as vítimas.
Ainda de acordo com o delegado, os investigados responderão pela prática do crime de roubo, com pena de quatro a 10 anos. “Alguns terão essa pena aumentada de um terço até a metade. Nos casos em que foi usada arma de fogo, poderá incidir, ainda, um aumento de dois terços”, acrescentou.
Outros casos semelhantes foram registrados no DF nos últimos dias. De 25 de abril até a sexta-feira passada (10/05/2019), policiais militares e civis atuaram em pelo menos dois casos de roubo de veículos na cidade relacionados a essa modalidade de crime.
Nas ocorrências, após os assaltos, os carros foram abandonados pelos bandidos e recuperados pela polícia. O primeiro registro, numa quarta-feira (25/04/2019), ocorreu no Recanto das Emas. Um motorista de aplicativo viveu momentos de terror após ser assaltado e levar uma coronhada. A vítima contou aos policiais militares que foi atender a uma solicitação de viagem e, ao chegar ao local, foi rendido por três suspeitos.
O motorista, de aproximadamente 30 anos, foi abandonado na via principal da região administrativa, próximo à Quadra 300. O drama só teve fim após militares do Grupo Tático Operacional do 27º Batalhão (Gtop) da Polícia Militar receberem informações sobre o roubo. Eles iniciaram a busca pelo carro, um VW Gol branco, que foi localizado trafegando em alta velocidade com o trio. Entre eles, um homem de 22 anos e dois adolescentes, de 16 e 17.
Após perseguição policial, o veículo foi interceptado e os envolvidos acabaram detidos. Durante as buscas no interior do automóvel, os militares encontraram o revólver calibre .38 com quatro munições intactas, usado no assalto. O carro foi recuperado e devolvido ao proprietário, que estava bastante abalado.
Quadrilha
Na última sexta-feira (10/05/2019), a PCDF prendeu uma quadrilha que roubava veículos e motoristas de aplicativo. O grupo de cinco homens foi detido por policiais da 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho II). Eles têm idades entre 18 e 38 anos. A PMDF também auxiliou na prisão dos criminosos.
O bando foi pego após denúncia de uma mulher que solicitou o serviço de transporte por aplicativo. A passageira, que ainda não havia entrado no veículo, viu o grupo render o motorista com uma arma de fogo e informou a polícia. Segundo a corporação, os homens sequestraram, agrediram e amarraram a vítima.
“Após 40 minutos de tortura, os criminosos soltaram o motorista em um matagal. Na delegacia, todos confessaram o crime”, contou o delegado-chefe da 35ª DP, Laércio Carvalho. Com eles, a polícia encontrou celulares e um carro modelo Ford Ka, que pertencia a uma locadora. Também foram achados R$ 480 e o veículo do motorista de aplicativo, um Fiat Gran Siena.
Aos policiais, eles afirmaram que haviam usado drogas e que queriam dinheiro para comprar mais entorpecentes. De acordo com a PCDF, “a maioria dos envolvidos na quadrilha são moradores do Lago Oeste, em Sobradinho, e possuem várias passagens por roubos, furtos e outros crimes”.
Para o delegado Laércio Carvalho, os assaltantes têm preferido os motoristas de aplicativos porque eles são alvo mais fáceis e ficam mais expostos. Ele disse ainda que, após os roubos, os criminosos utilizam os carros para cometerem outros assaltos.
O roubo é um dos crimes mais difíceis de se combater. Os criminosos são oportunistas e aguardam o momento certo para agir. No caso dos motoristas de aplicativos, há uma particularidade: eles vão ao encontro do criminoso. Os ladrões chamam pelo app e a vítima não tem como saber que se trata de um crime e acaba caindo na armadilha”, Laércio Carvalho, delegado-chefe da 35ª DP.
Susto
Funcionário de um aplicativo, Everson Costa (foto em destaque), 33 anos, já ficou na mira de bandidos. Ele conta que aceitou uma viagem de Vicente Pires para o Setor O, em Ceilândia, há oito meses. Ao chegar no destino indicado deixou o seu passageiro e recebeu nova chamada a 600 metros do endereço.
“Era por volta das 1h da manhã. Como estava próximo, resolvi aceitar. Quando eu parei o veículo, dois homens entraram armados, me deram coronhadas e pediram para eu seguir até Brazlândia”, disse Everson.
Ainda segundo o motorista, os homens eram violentos e o agrediram. “Me deixaram às margens da estrada e roubaram todos os meus pertences. Levaram até a minha roupa. Eu saí correndo para um matagal e eles chegaram a atirar, mas nenhum disparo me atingiu. Foram momentos horríveis. Achei que não voltaria vivo para casa”, acrescentou.
Everson acredita que os motoristas ficaram mais vulneráveis desde que as empresas implementaram o pagamento das corridas em dinheiro. “Não há segurança alguma no nosso trabalho. Assim como nós temos um cadastramento detalhado, os usuários também deveriam ter”, critica.
O susto passou, mas a sensação de insegurança permanece. “Recuperei o meu veículo, mas ele estava completamente detonado. Comprei outro carro e voltei para a profissão. Hoje, trabalho com sensação de medo. Sempre rezando por dias melhores.”
A reportagem entrou em contato com o Sindicato dos Motoristas Autônomos de Transportes Privado Individual por Aplicativos no DF (Sindmaap), mas, até a publicação desta reportagem, não havia recebido o posicionamento da categoria.