A polícia do Rio de Janeiro testou um lote de pistolas usadas pela corporação e descobriu falhas na maioria. Os defeitos na arma da marca Taurus já foram motivo de reclamações de policiais em outros estados.
Quando o policial precisa da arma, ela falha. Quando não é para atirar, a arma atira. A pistola modelo 840 pertence a um policial de São Paulo. Foi para a manutenção.
Mas na cidade de Padre Bernardo, perto de Brasília, um tenente da Polícia Militar não teve tempo de perceber o problema. Ele foi atingido na perna pela própria arma há três anos, e acaba de passar pela quinta cirurgia.
“Quando a minha arma caiu, era pra não disparar, era pra não ter disparado de forma alguma e ela disparou”, contou Alexandre de Castro, tenente da PM – Goiás.
Um disparo acidental também deixou marcas no peito e no braço do major Eduardo Alves, de Goiânia. Foi há nove anos.
“Apresentam vários tipos de defeitos, mas em regra são: cair no chão e disparar; o operador precisar usar a arma e ela trava por causa de uma pane ou ela está estática dentro de um coldre e dentro do coldre ela dispara”, disse Eduardo Bruno Alves, major da PM- Goiás.
Em todos esses casos as armas são de um mesmo fabricante: a Taurus. É a maior empresa de armamento do país e a principal fornecedora das forças policiais brasileiras.
Depois do acidente, o major criou um site para reunir denúncias de policiais que tiveram problemas com armas desse fabricante.
“A sociedade está perdendo em segurança dela porque o policial vai tentar usar a arma e não consegue”, destacou Eduardo Bruno Alves, major da PM- Goiás.
No Rio de Janeiro, as reclamações dos policiais civis sobre o mau funcionamento de um tipo de pistola da Taurus levaram a corporação a fazer um teste internacional rigoroso num lote de duas mil armas. O resultado surpreendeu pela quantidade de falhas.
A GloboNews teve acesso ao lado. O modelo testado foi a PT 840, pistola de calibre ponto 40. O lote foi comprado em 2013. Os testes, feitos em abril de 2015, foram acompanhados por um perito do instituto de criminalística.
O atirador era um funcionário da Taurus, que fez 600 disparos com cada uma das 20 armas testadas. Dessas 20 pistolas, 16 apresentaram falhas no disparo, na alimentação das balas e na saída do cartucho. Cinco armas que tiveram mais de cinco falhas foram reprovadas.
Para um instrutor de tiro, que não quis se identificar, o resultado é preocupante. “A arma não funcionando, eu coloco o policial ou o usuário, quem for, em risco. Com certeza essa arma não poderia estar na mão de ninguém mais”, disse ele.
O delegado que acompanhou os testes diz que todas as duas mil armas estão recebendo peças novas, passando por um tipo de recall, mas que, depois dessa reforma, não passaram por novos testes.
As armas que ainda não voltaram para a fábrica ainda estão nas mãos dos policiais.
Repórter: Essas armas não representam perigo?
“Não. Desde que o policial a use com a munição correta, isso para qualquer arma, seja essa, seja outro modelo, seja outro fabricante, tem que usar com a munição correta, isso que a gente sempre orienta o policial”, disse Rafael Willis, delegado.
Não é o que pensa outro instrutor de tiro, que também não quer ser identificado. “Se elas não conseguem, num estande de tiros, produzir o efeito que a gente espera, imagina no árduo trabalho policial”, declarou.
A Taurus declarou ter gasto R$ 20 milhões na revisão técnica de 147 mil armas, no último ano. A empresa afirmou que passa por uma reestruturação administrativa e operacional para aprimorar a qualidade do armamento.