Fonte: Metrópoles

A morte da estudante de biologia Louise Ribeiro, 20 anos, assassinada no campus da Universidade de Brasília (UnB) por um colega de curso, não foi suficiente para sensibilizar parte dos alunos da instituição. Menos de um mês após a tragédia que chocou o Distrito Federal, universitários do curso de engenharia divulgaram conteúdo machista, que prega o desrespeito às mulheres e faz até mesmo apologia ao estupro.

O preconceito, transformado em versos que chegam a mencionar agressões sexuais, foi entoado em forma de músicas pela bateria da Atlética Maquinada, grupo da Associação Atlética Acadêmica das Engenharias da UnB (AAAEUnB), que diz representar 18 cursos da universidade. O episódio ocorreu no último dia de competição dos Jogos Intercalouros, encerrados no domingo (3/4). Além de atacar as mulheres, as canções agridem outras instituições, como a Universidade Católica de Brasília (UCB) e a Universidade Federal de Goiás (UFG).

GRITOS MAQUINADA

Maior do Centro Oeste
(maior do centro oeste)
Da Unb eu sou
(da Unb eu sou)
Bebendo e passando
(bebendo e passado)
Pedindo mais um chopp
(pedindo mais um chopp)
E a goianada
(e a goianada)
Com o pequi na mão
(com o pequi na mão)
O que que eu vou dizer?
(o que que eu vou dizer?)
VOLTA PRO CURSINHO PRA PASSAR NA UNB
Pânico pá pá pânico sou de Brasília

Olê olê olê olê
Olê olê olê olê
Sou maquinada de coração
Eu sou do time que vai ser o campeão

Explode o seu cartão na maior mensalidade
É linda a federal que o seu pai que paga a minha faculdade

Eto eto eto dia 5 tem boleto

Va re ée eu sou o filho que seu pai queria ter

Pode perder, pode ganhar
O importante é peitinho balançar
Pode ganhar, pode perder
O importante é o peitinho aparecer

PUC PUC boquete
O boquete não pode parar
A minha benga balança
Balança pra PUC chupar
PUC boquete

O TECO não é SPA, vamo levantar

Ode ode se eu não fodo ninguém fode
Orme orme se eu não durmo ninguém dorme

Ão ão TECO é integração
Erpe erpre menos Uniderp

Eu já falei, vou repetir
Eu já falei, vou repetir

Acabou o assunto, pau no cu da UFG
Acabou a UFG, pau no cu do assunto

A UCB tem régua no cu
A UCB tem régua no cu
A UCB tem régua no cu
Vem medir meu pau

Já calculei,
Só burro paga

Ah mas que vergonha
O que cês pagam a gente fuma maconha

Ah mas que sem graça
O que cês pagam a gente bebe de cachaça

Trabalha, trabalha
Trabalha o ano inteiro
Que lá em Brasília a gente rouba o seu dinheiro

A marreta só tem galinha
Pena que elas não vieram

Ó tu…, como é que pode???
As suas minas é nóis que fode

Pinto gigante, saco anormal
UNB rasga geral

Eu sou machista, capitalista
Engenharia, mulher é na cozinha

Quatro dias sem cagar
Comigo veio, comigo vai voltar

A de amor
B de buceta
C de cu
D de dedada
E de enfiar
F de fuder
G de gozar
H de hímen rompido
I de istrupar
J de jacular
L de lamber
M de meter
N de nada na minha porra
O de olho do seu cu
P de pirocada
S de socar
T de trepar
E U?? U-N-B ta chegando no pedaço!!!! U-N-B vai tirar o seu cabaço!!!!

Repletas de palavrões, as músicas têm versos como “eu sou machista, capitalista”, “mulher é na cozinha” e “a UnB vai tirar o seu cabaço”. Mas a violência e a intimidação não se restringiram às canções. A estudante de engenharia Sophia Luduvice, coordenadora-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE), relatou, em sua página no Facebook, agressões que alunas de enfermagem sofreram durante a entrega da premiação no fim de semana. Segundo Sofia, “20 membros da Máquina começaram a fazer sinais obscenos e a entoar gritos extremamente machistas”.

O presidente da AAAEUnB foi procurado para comentar o episódio, mas não retornou os contatos da reportagem.

Reitoria e polícia
A confusão foi parar na reitoria, que promete investigar a conduta dos universitários nos Jogos Intercalouros. Ao ser questionada pela reportagem, a Polícia Civil pediu a cópia das letras e vai analisá-las para ver se há crime. Caso seja constatado algum comportamento ilícito, o órgão poderá abrir um inquérito para responsabilizar os autores.

Se for aberta investigação, o procedimento ficará a cargo da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência. O decreto de criação da unidade foi assinado pelo governador Rodrigo Rollemberg.

Trotes violentos
O incidente nos Jogos Intercalouros é comum na UnB, que costuma protagonizar episódios de desrespeito às mulheres, especialmente durante os trotes. Em fevereiro de 2011, por exemplo, estudantes do curso de agronomia (foto principal) foram criticados por obrigarem as colegas aprovadas no vestibular de 2010 a lamberem linguiças com leite condensado. O caso teve repercussão nacional e motivou discussões sobre os abusos nas atividades promovidas para receber recém-aprovados.

O trote virou alvo de representação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, encaminhada ao Ministério Público Federal e à Reitoria da universidade. Após o caso, a UnB promoveu uma campanha contra os trotes universitários grosseiros e violento.

Em um trote no segundo semestre de 2013, fotos de estudantes da UnB segurando cartazes que faziam apologia ao estupro foram compartilhadas no Facebook e causaram a revolta de internautas. Grupos feministas repudiaram o ato e fizeram um protesto contra a atitude, protagonizada por calouros da engenharia.

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