Fonte: Jornal de Brasília

Você se sente seguro ao andar pelas ruas do Distrito Federal? O roubo a transeunte é um crime em crescimento na capital. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social (SSP- DF), em fevereiro deste ano, foram registrados 2.954 crimes dessa natureza. O aumento é de 18,3% em relação ao mesmo mês de 2015, quando o total foi de 2.495.

O alvo maior dos bandidos são aparelhos celulares, bolsas e carteiras, e as ações criminosas não têm hora nem local certos para acontecer. Vítimas ouvidas pela reportagem do Jornal de Brasília relatam delitos ocorridos tanto à noite quanto em plena luz do dia, em vários pontos do DF.

Aglomeração

Em janeiro deste ano, foram registrados 3.061 roubos a pedestres. Um aumento de 7% em relação ao quantitativo de janeiro de 2015, que foi de 2.860 casos. Nos últimos meses, os criminosos agiram com frequência em paradas de ônibus, geralmente no início da manhã, quando há muitas pessoas juntas. Os bandidos chegam em grupos e fazem arrastões. Depois, fogem correndo, em bicicletas ou em carros.

Santa Maria é uma das localidades em que os arrastões têm sido frequentes. A diarista Alcione Lopes, 54 anos, sai de casa todos os dias antes das 6h para ir ao trabalho e, por pouco, escapou de bandidos.

“Na semana passada, cheguei à parada logo depois de acontecer um arrastão. Os caras chegaram em um carro, abordaram todo mundo com facas e levaram bolsas e carteiras. Encontrei todos nervosos quando cheguei. Uma colega minha estava desesperada. A situação está terrível e isso tem ocorrido várias vezes”, explicou.

Em grupo

Por causa das ações frequentes, Alcione fica receosa de ir para a parada de ônibus sozinha. Por precaução, como alguns vizinhos saem no mesmo horário, ela se junta a eles e todos vão em grupo para o ponto de ônibus.

Versão oficial

A Secretaria de Segurança informou que, no ano passado, houve 1.919 casos de roubo a transeuntes registrados em Santa Maria. Em 2014, foram 1.773, aumento de 8,2%. Em Ceilândia, o crime teve queda de 3,5% em 2015 se comparado a 2014. Foram 5.813 ocorrências no ano passado e 6.023 em 2014. No início do ano, a Polícia Militar e a secretaria iniciaram a operação Redução dos Índices de Criminalidade (RIC), que prevê o reforço de 600 militares no policiamento ostensivo em todas as regiões. Essas ações são direcionadas para locais, dias e horários apontados como críticos por dados e manchas criminais produzidos pela secretaria.

Em nota, a Polícia Militar informou que os batalhões de Santa Maria e Ceilândia têm viaturas que fazem rondas nas paradas de ônibus, mas vão reforçar essas ações nas primeiras horas da manhã, momento em que muitas pessoas se deslocam para o trabalho.

De acordo com a PM, a orientação é denunciar qualquer ação suspeita na região de deslocamento ou ponto de ônibus para que seja prontamente verificado, caso não haja uma viatura no local. Além disso, a polícia orienta não deixar de registrar a ocorrência, pois isso ajuda a otimizar o policiamento.

Criminoso aponta arma para criança

Em Ceilândia, vários moradores se queixam de assaltos. O pedreiro Stênio Marques, 24 anos, conta que a mulher dele foi assaltada há cerca de três meses. Ela estava com o filho do casal, de quatro anos, quando foi abordada. Por se negar a entregar o celular, o criminoso sacou uma arma e apontou para a cabeça da criança.

“Quando o cara ameaçou nosso filho, minha esposa entregou o celular. É algo revoltante porque aconteceu no meio da manhã, por volta das 10h. Meu filho ficou tão traumatizado com a situação que, sempre que vê um policial ou alguém armado, começa a chorar, com medo”, explicou.

Agora, sempre que a esposa vai sair, Stênio faz questão de acompanhá-la. No ano passado, ele também foi vítima de assalto quando chegava em casa. Os bandidos levaram a carteira com documentos e o celular. Ele diz que chegou a registrar ocorrência ciente de que não teria os pertences encontrados.

“Esse é um tipo de crime que não adianta fazer denúncia. O que resolveria ou, pelo menos, reduziria os casos seria policiamento efetivo nas ruas. Quase não vejo viaturas passando por aqui”, reclamou o morador do P Norte.

A telefonista Solange Ferreira, 51 anos, foi assaltada quando chegava do trabalho. Dois rapazes a abordaram com facas e a mandaram entregar a bolsa. “Os bandidos se aproveitam dos horários em que as paradas estão cheias. No início da manhã, antes das 6h, e, durante a noite, quando as pessoas estão chegando do trabalho. Eu evito usar o celular quando estou na rua, prefiro manter guardado na bolsa para não chamar a atenção”, afirmou. Solange sugere a volta da dupla de policiais, conhecida como Cosme e Damião.

Mudança de hábito não resolve

Suzana Cardoso, 45 anos, auxiliar de cozinha, evita sair com bolsas e objetos que chamam a atenção de bandidos. Ela conta que já foi assaltada uma vez e jamais quer passar pela situação novamente.

“Eu fiquei sem reação, pois três caras me abordaram, me revistaram e, quando pegaram tudo que eu tinha, mandaram eu deitar no chão. Pensei que seria morta, pois estava sozinha em um lugar pouco movimentado. Na hora, eu fiquei preocupada com meus filhos e revoltada ao mesmo tempo. Foi traumatizante”, relembrou. O assalto ocorreu há seis anos, mas Suzana não esquece aquele dia.

Ela denuncia a falta de policiamento em Ceilândia e diz que, quando sai de casa, costuma rezar para que nada aconteça nem com ela e nem com a família, pois a situação da cidade está crítica. Por precaução, sempre que Suzana viaja, ela deixa alguém em sua casa, pois tem medo de chegar e encontrar a residência roubada.

Três vezes em dois anos

O autônomo Nelson da Silva, 29 anos, vive no Distrito Federal há dois anos e, nesse período, já foi assaltado três vezes. Nos dois primeiros assaltos, levaram a carteira e o celular. Na última vez, há cerca de cinco meses, os bandidos levaram o carro quando ele passava por um quebra-molas.

“Os dois me abordaram e disseram: ‘Perdeu, passa o carro’. Entreguei porque eu não ia arriscar minha vida. Fiz o boletim de ocorrência, mas nunca encontraram meu veículo. Fiquei muito chateado com a situação”, revelou o autônomo.

Revoltado, Nelson passou a usar bicicleta como meio de transporte. Porém, foi alvo dos bandidos novamente. Depois de parar a bike na porta de casa e entrar para buscar algo que tinha esquecido, não encontrou mais a bicicleta.

“Não demorei nem dois minutos. É revoltante a gente trabalhar e não poder ter as coisas porque senão os bandidos roubam”, avaliou. Desgostoso com a criminalidade na capital, o autônomo pretende voltar a viver com a família em sua terra natal, em Teresina (PI). Para ele, o quantitativo de policiais do DF seria suficiente para diminuir o número de crimes.

Ponto de vista

O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Distrito Federal, Benito Tiezzi, reforça a preocupação com com o aumento dos relaxamentos de prisão e das liberdades provisórias, que estariam alimentando a sensação de impunidade entre os criminosos. O delegado cita o exemplo de um suspeito de roubo preso três vezes no intervalo de um mês. Nas duas primeiras prisões em flagrante, ele foi solto em audiências de custódia. Ele também denuncia a falta de estrutura para atender essas audiências.

Tiezzi explica que, no Distrito Federal, foram alocados mais de cem policiais, retirados de suas atividades de rotina, para atuar na apresentação dos presos. “Não vou afirmar que decorre diretamente da audiência, mas tivemos um aumento severo de roubos, de aproximadamente 19%. E roubo é crime complexo porque traumatiza a vítima”, destacou.

Dicas
Segundo a PMDF, a população deve:

No trajeto para o ponto de ônibus, ficar atento a pessoas ou movimentos suspeitos, além de observar veículos próximos;

Transitar por ruas ou praças iluminadas e, se possível, sempre em grupo;

Ficar atento quando estiver aguardando na parada de ônibus;

Não ostentar bens como carteira e celular;

Evitar falar ou mexer no celular para não correr o risco de não perceber movimentações estranhas;

Denunciar qualquer ação suspeita para que os policiais façam a verificação e deem mais tranquilidade para os usuários de transporte público.

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