Fonte: G1 / BRASÍLIA
As faixas feitas pelo brasiliense Emanoel Costa em protesto por ter a residência furtada duas vezes em menos de três meses foram queimadas e rasgadas. O material estava afixado desde domingo (27). De forma irônica, o bombeiro hidráulico propunha um acordo aos ladrões: em vez de arrombarem o portão da casa, receberiam uma “caixinha”.
Costa afirmou que encontrou as faixas queimadas, rasgadas e jogadas no chão na frente da casa dele, em Águas Lindas, no Entorno do DF. Algumas horas mais tarde, ele estava dentro da residência quando diz que ouviu uma ameaça: “A imprensa já foi embora, não tem mais ninguém aqui. Agora podemos agir”.
O homem não soube identificar o dono da voz. Assim que ouviu a mensagem, Costa seguiu direto para a delegacia para registrar a ocorrência. Ao voltar da delegacia, notou que o portão havia sido aberto. “Eu tinha deixado tudo fechado quando saí. Estou com medo de represálias”, diz.
Emanoel conta que não tem coragem de voltar para a residência a fim de buscar os pertences. Por enquanto, ele vai ficar na casa de parentes, para onde a mulher e o filho de 19 anos haviam se mudado provisoriamente desde quarta-feira (23). A vizinha dele, Laura Procópio havia pendurado mensagens semelhantes em 18 de março e, cinco dias depois, também encontrou o tecido destruído.
As faixas queimadas “sugeriam” que os ladrões pegassem uma quantia em dinheiro que Emanoel depositaria na caixa de correio. A ideia evitaria prejuízos adicionais ao roubo por conta do arrombamento do portão. Ao G1, Emanoel explicou que a ironia era a única forma que encontrou de se manifestar pela redução da criminalidade na região. “É para saberem que aqui nem tem mais o que roubar”, diz.
Há seis anos em Águas Lindas, Costa ainda precisa pagar o financiamento da casa por mais 19. Ele ainda não sabe se vai continuar morando no local. A vizinha Laura Procópio vai se mudar na quinta-feira (31) para outra residência no mesmo bairro.
Emanoel calcula que os ladrões tenham levado mais de R$ 22 mil em produtos. “A primeira coisa que eu notei foi a televisão, a partir daí fui sentindo falta das coisas”, conta. De 51 polegadas, o aparelho custou R$ 2,5 mil. “Ainda nem terminei de pagar. Nunca tive uma televisão dessas. Comprei pensando no meu filho”, diz.
Além da TV, foram levados computador, notebook, tablet e micro-ondas. Os ladrões furtaram aubda o botijão de gás e utensílios de cozinha, desde facas até garrafas de café, pires e xícaras. Dos quartos, sumiram roupas e cosméticos. “Até o sabonete eles levaram. É mais fácil contar o que sobrou.”
Costa é estudante do quinto período de engenharia civil no Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb). Para ele, os pen-drives onde guardava o material de estudo foram a perda mais dolorosa.
“As coisas materiais um dia a gente trabalha e compra outras, mas esse sim é o maior prejuízo que eu tenho. Isso não volta mais, doeu meu coração. Sonho em continuar estudando, me formar e proporcionar uma vida melhor para a minha família.”
Após o primeiro crime, Emanoel investiu cerca de R$ 1,2 mil em reforços na segurança. Ele instalou chaves tetra nas portas, tornou o portão da frente eletrônico, colocou uma grade no portão dos fundos e pôs cadeados em todas as janelas. No segundo roubo, os ladrões conseguiram arrombar o portão.
“Me sinto um cidadão de mãos e pés atados. O lugar onde você dorme, um estranho pode chegar na hora que quer e fazer o que quer lá dentro? Grande parte da população daqui vive com medo. E eu fiz tudo o que eu podia [para me proteger]. No fim, o único recurso que achei foi a faixa”, afirma