Apreensões de cocaína e sintéticos aumentaram até 8 vezes

O DF é destino cada vez mais visado para a revenda de drogas. A afirmação é do delegado da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) da Polícia Civil, Rodrigo Bonach. Provas disso são os altos números de apreensões de entorpecentes e flagrantes de tráfico em 2015, especialmente os produtos sintéticos. Apenas as detenções de LSD aumentaram 819% entre 2014 e o ano passado.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, foram 1.045 microsselos recolhidos em 2014 e 9.607 em 2015. Em 2014, 5,2 toneladas de substâncias ilícitas foram confiscadas. São elas  maconha, merla, cocaína, crack e haxixe. No ano passado, foram 2,8 toneladas.  Dessas, a maconha correspondeu à maior parte: 2,3 toneladas. Apesar da queda no comparativo anual, outras drogas mensuradas não pelo peso, mas por unidades, subiram significativamente.  A quantidade de lança-perfume, por exemplo, subiu 418%. Quanto ao ecstasy, o aumento foi de 321%.

O motivo para tantas apreensões, explica Bonach, está ligado ao fato de que, diferentemente de outros lugares do País, o DF é interessante para o tráfico no sentido estritamente comercial. “Brasília tem poder aquisitivo mais alto em relação a outros estados e é polo atrativo de revenda de drogas. Além disso, está inserida em Goiás, que é interessante para traficantes como polo de redistribuição de entorpecentes, como entreposto comercial”, diz.

Em outubro do ano passado, por exemplo, lembra o delegado, foi registrada a maior apreensão de crack da história do DF: 173 quilos em apenas uma abordagem. “As drogas vinham de Rondônia, passavam por Mato Grosso e Goiás até chegar ao DF”, detalha.

Os entorpecentes estavam escondidos no fundo falso de um caminhão. “Ele vinha da região fronteiriça de Rondônia com a Bolívia até chegar aqui com essa droga, avaliada em mais de R$ 2 milhões”, destaca Bonach.

Nessa ação, foi preso Luciano Costa Campos, dono de fazenda no norte de Goiás, de onde as substâncias eram enviadas também para Natal (RN).

A quantidade de cocaína recolhida no ano passado cresceu 112% em relação a 2014, somando 93 kg.  Quanto ao crack, houve pouca variação, de 371 kg para 386 kg. “Em 2015, tiramos o foco da maconha e focamos na cocaína. O tráfico dela é mais deletério, mais grave para a segurança pública como um todo. Ela é a base para o crack. Então, combater o tráfico de cocaína repercute positivamente nos números gerais da segurança pública”, explica o delegado.

BRs favorecem comércio na capital federal

Para entender como o DF se tornou polo de revenda de drogas, é necessário conhecer a logística dos traficantes. Segundo o delegado da Polícia Civil Rodrigo Bonach, uma facilidade para a entrada das substâncias são as estradas. “São importantes rodovias federais que servem de passagem entre o DF e outros lugares do Brasil”, aponta. Entre elas, cita as BR-060, 0-20, 0-70 e a 0-80.

“O DF está dentro de Goiás, um entreposto comercial de drogas. Elas saem de regiões fronteiriças, como Paraná, Mato Grosso, Rondônia, vêm para Goiás, na região do entorno do DF, são estocadas e são redistribuídas para outros estados, inclusive, para o DF”, detalha o delegado. Para ele, “isso afeta a segurança pública no DF, sobretudo porque o sistema penitenciário de Goiás é deficitário, e a presença de aparelhos celulares nos presídios é grande. Mesmo presos, eles não param de traficar”, salienta.

Esquema dentro da prisão

Exemplo disso é o traficante Gilmar Albino, detido no ano passado. Segundo Bonach, ele havia sido preso em 2010 com dez quilos de cocaína. Mas conseguiu transferência para Goiânia e, de dentro da prisão, comandava esquema de remessa de pasta base de crack para o DF. “Ele progrediu de regime, ficou em liberdade e tinha contatos com traficantes de Ceilândia. Foi preso no ano passado com 40 quilos de crack”, lembra o delegado.

Segundo Bonach, Ceilândia é hoje uma das principais localidades de distribuição de drogas no DF: “Samambaia, Ceilândia e Planaltina são, historicamente, locais onde mais ocorre tráfico”.

Ele lembra que, no começo de 2015, foram apreendidos 150 quilos de maconha em uma ação que envolveu dois traficantes conhecidos em Sobradinho e Planaltina. “Eram pessoas difíceis de investigar. Elias Silva e Ivanildo da Cruz foram presos e devem ser condenados”, diz.

Número de flagrantes em alta

Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública, houve aumento de 27,1% nos flagrantes de tráfico de drogas no DF no acumulado de janeiro a novembro de 2015. As ocorrências subiram de 2.120, em 2014, para 2.694, em 2015. No que diz respeito ao consumo, o órgão destacou que houve crescimento de 42% nos flagrantes entre os períodos comparados. Os registros de uso e porte passaram de 4.799, em 2014, para 6.816 no ano passado.

“Ressaltamos que os números mencionados tratam  da quantidade de flagrantes e não do número de presos por tráfico ou uso e porte de drogas. Também frisamos que os aumentos nos casos são positivos, pois estão ligados diretamente à produtividade policial”, afirmou o órgão, por meio de nota. “A partir dos dados informados, não é possível afirmar que houve aumento de tráfico e de consumo de drogas no DF, mas que as forças de segurança pública atuaram mais fortemente contra esses crimes”, completou.

Na avaliação da Secretaria de Segurança, os números “foram alcançados devido às ações integradas do Viva Brasília – Nosso Pacto pela Vida, do incremento de 1,7 mil policiais militares nas ruas desde o início do ano passado, além de amplas investigações das delegacias da Polícia Civil para retirar grandes traficantes que atuavam no DF”.

Rotina de medo nas cidades

Os moradores das regiões do DF conhecidas como as principais no comércio de drogas asseguram que viver cercado por traficantes é uma rotina de medo. “Drogas não trazem nada que presta. A lei é frágil. O policial prende em um dia, no outro, a pessoa está solta. A culpa não é da polícia, é dos governantes”, diz Júlio Silva, 31 anos. O ajudante de entregas vive próximo à Quadra 19  de Ceilândia Norte, região dominada pelo tráfico.

Na QNN 21, onde também há tráfico de drogas, a empregada doméstica Luzia Batista, 53 anos, conta que quase não permite que seus filhos brinquem na rua, com receio da influência dos traficantes e dos usuários. “A minha atitude para manter meus filhos longe das drogas foi o trabalho. Até meu neto, se ele não tem o que fazer e diz que quer ir para a rua, arranjo logo uma coisa para ele fazer, limpar a casa, lavar a louça. Em último caso, peço para ele jogar videogame mesmo”, conta Luzia.

Em Samambaia, uma moradora da QR 315 chega a comparar o tráfico na quadra ao de Barreiras, na Bahia, de onde veio. “Está a mesma coisa. A gente fica com medo porque tem criança pequena em casa, né? O que mais tem por aí é droga. É grande o movimento”, diz a auxiliar de serviços gerais Evandir Cardoso, de 48 anos. (Colaborou Manuela Rolim)

Fonte: Jornal de Brasília

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