Além das marcas físicas, elas carregam o pânico sempre na mente

Uma mulher, que por motivos de segurança prefere não ser identificada, revela como passou a carregar em seu corpo as “marcas da violência”. Ela tem olhos verdes profundos, mas a voz se mantém sempre trêmula de tanto medo. Em seu corpo há marcas de facadas e pauladas; em sua mente, o pânico continua, já que o marido agressor chega a ameaçá-la de morte.

— Ele me bate aqui dentro de casa, me bateu na rua, já bateu na frente de todo mundo. Os vizinhos todos sabem. Ele me empurra, ele me chuta, ele me espanca na frente de qualquer um. Ameaçou me jogar em uma cisterna aqui e todo mundo da rua sabe disso, todo mundo sabe. Ele falou: vou te matar e vou te jogar lá dentro.

A vítima conta que vive em meio à violência há quatro anos. De acordo com o Mapa da Violência, as agressões contra as mulheres são mais comuns nas cidades pequenas, onde muitas vezes a delegacia mais próxima está a quilômetros de distância. A vítima, moradora de uma cidade do Entorno do DF, conta que já registrou cinco boletins de ocorrência contra o marido e, além disso, tem uma medida judicial que a protege. Ainda assim, o marido continua dentro de casa.

— Eu tenho certeza que hoje ele vai chegar e vai acontecer a mesma coisa. Vai me bater de novo. A não ser que eu corra para a casa do vizinho. É mais fácil eu ser levada pela polícia do que ele, porque a polícia não resolve nada, não faz nada.

O Distrito Federal tem 31 delegacias de polícia e uma delas especializada no atendimento à mulher. Esta é considerada a porta de entrada para que a vitima tenha acesso a uma rede de proteção que integra órgãos públicos e organizações não governamentais. Só em 2015, a Delegacia da Mulher já recebeu mais de 3.300 denúncias.

— A rede de enfrentamento são órgãos governamentais e não governamentais que atuam com esse tema, no sentido de proteção. Então, nós teremos a Polícia Civil, a Polícia Militar, o Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, algumas faculdades, com núcleo de psicologia, a secretaria de saúde, os órgãos de ação social, a Casa da Mulher Brasileira. Os órgãos falam entre si para que se identifique qual a demanda daquela mulher. A nível de Distrito Federal, sem dúvida, nós temos a melhor rede de enfrentamento a violência montada, explica a delagada da mulher, Ana Santiago.

 

Em 2013, o Governo Federal lançou o programa “Mulher, Viver Sem Violência” e criou a Casa da Mulher Brasileira. Trata-se de um espaço que oferece serviços especializados para os mais diversos tipos de violência contra as mulheres e, no acolhimento, já recebe atendimento psicossocial. O local reúne delegacia, juizado, Ministério Público e Defensoria Pública – tem até brinquedoteca para cuidar das crianças enquanto as mães são atendidas. Inaugurado em junho, o projeto já atendeu a mais de 400 mulheres

— Esse programa visa uma integralidade do atendimento. Em um mesmo espaço físico, a mulher conta com diversos equipamentos que ela precisa para o enfrentamento da situação de violência. Existe também a proposta de humanização do atendimento, explica a coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, Miriam Pondaag.

Uma senhora de 53 anos, que frequenta a Casa da Mulher Brasileira, é casada e chora ao contar as agressões psicológicas que sofre do marido.

— A violência psicológica dói tanto quanto a física: ‘vou te matar’, ‘vou botar fogo na sua casa’, ‘vou me matar’, ‘se você tá pensando que vai ficar viúva e rica, você tá enganada’, ‘você vai levar fumaça’. Ele não tem bens materiais. A pessoa se encontra doente e não procura ajuda. Ele acha que eu sou culpada.

 

Fonte: R7/ Distrito Federal

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