Para os candidatos, a escolha do nome que vai aparecer nas urnas é estratégico. A identificação do político é essencial para atrair eleitores de alguns segmentos e ampliar o potencial de votos. Muitos concorrentes de Brasília optam por adicionar a profissão à alcunha política. O Correio analisou os nomes escolhidos pelos 1.215 concorrentes registrados no Distrito Federal. A palavra mais recorrente é professor: 68 pessoas vão se apresentar ao eleitorado como representantes do ensino. Pastores, doutores, bispos e patentes militares são, na sequência, os codinomes mais comuns.
A Câmara Legislativa tem hoje dois deputados que usam a palavra professor como parte do nome parlamentar: Israel Batista, que será candidato a deputado federal, e Reginaldo Veras, que tentará a reeleição. Além deles, outros 66 políticos acrescentaram antes do nome a profissão de educador para tentar facilitar a identificação e para tentar agregar votos.
A diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro) Rosilene Correia diz que o número alto de candidatos que agregaram a palavra ao nome da urna é um aspecto positivo, que indica a respeitabilidade da profissão. Mas ela alerta os eleitores para a importância de analisar o currículo profissional dos candidatos oriundos da docência. “É positivo que muitos candidatos se apresentem como professores. Isso mostra que a profissão passa credibilidade ao eleitor”, explica Rosilene.
“Apesar de problemas graves que enfrentamos, como a desvalorização do ensino, a sociedade ainda vê o professor como um profissional respeitado. Isso abre portas”, acrescenta a representante da categoria. “Mas o eleitor tem que analisar a trajetória profissional do candidato para saber se o passado dele realmente condiz com uma história de luta pela educação, ou se a adoção do nome tem apenas interesse eleitoreiro”, acrescenta a diretora do Sinpro.
Outra palavra recorrente entre os nomes políticos nas urnas é pastor. Dez candidatos se apresentam como representantes evangélicos. Outros dois políticos acrescentaram a palavra bispo à alcunha política. A bancada religiosa é hoje a mais forte da Câmara Legislativa e, segundo especialistas, tende a se fortalecer na próxima legislatura. Muitos veem na escolha de um nome associado aos evangélicos a possibilidade de alavancar a votação.
Para o presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do DF, Josimar da Silva, é comum que os religiosos sejam identificados no dia a dia pelo cargo que ocupam dentro da igreja. Mas ele conta que a entidade recomenda o afastamento dos líderes religiosos que decidem se candidatar, como forma de evitar a exploração política da religião. “A orientação do conselho é para que o pastor se licencie ao virar candidato. A maioria, felizmente, tem seguido essa recomendação”, conta Josimar.
“É claro que o uso da palavra pastor agrega votos, mas muitos líderes espirituais são conhecidos em função do trabalho no dia a dia, são chamados dessa forma independentemente das eleições. Só pedimos que eles não estejam dentro da igreja pastoreando e pedindo votos ao mesmo tempo”, finaliza o líder evangélico.
Apelo
Somados os diferentes cargos, as profissões relacionadas à segurança pública estão entre as mais recorrentes nos nomes políticos dos candidatos deste ano. Ao todo, são seis delegados, cinco majores, cinco coronéis, três bombeiros, dois policiais, sete sargentos, um tenente e dois agentes — um deles não é da polícia, mas atua na área de saúde.
O presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do DF, Rafael Sampaio, acredita que o uso do cargo agrega valor à candidatura dos representantes da corporação. “Isso mostra que a figura do delegado traz uma respeitabilidade muito grande na sociedade e confere vantagem na eleição. Há um anseio enorme por segurança pública, e o tema nunca esteve tão em evidência. A figura do delegado representa uma autoridade local, que está sempre à disposição para resolver demandas. O fato de serem delegados que permite essa condição de serem eleitos, às vezes com pouco recurso, simplesmente pela notoriedade do cargo”, justifica Sampaio.
Por outro lado, a existência de seis candidaturas entre delegados representa uma pulverização que pode atrapalhar a eleição de um representante da categoria. Para Rafael Sampaio, entretanto, o grande número de candidaturas não é negativo. “Isso sempre existiu e nunca representou um impedimento para que a categoria elegesse representantes”, afirma o presidente do sindicato.
Entre militares, também houve uma disseminação de candidaturas. Para o presidente da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, coronel Milton Antônio Paduan, o fenômeno traduz a respeitabilidade da PM e das Forças Armadas. “O que percebo na atual conjuntura é que começou a recrudescer uma visão dos militares como uma saída milagrosa para os problemas do país. Isso gerou uma moda de candidatos militares. Há pouco tempo, era visto como inaceitável e hoje é visto como normal, assim como ocorreu com a onda dos evangélicos”, explica o coronel. “Isso agrega votos, quem é da caserna conhece os nossos valores éticos”, acrescenta.
A lista traz ainda 21 doutores e doutoras candidatos. Entre eles, há médicos, advogados e dentistas que usam a alcunha para traduzir respeitabilidade. Entre os 1.215 candidatos que pediram o registro à Justiça Eleitoral no DF, são poucos os políticos identificados com o nome da cidade onde moram e buscam votos. A exceção são três candidatos de Ceilândia, um do Sol Nascente e uma candidata do Pôr do Sol, também na região. Eles acrescentaram o nome da cidade à identificação das urnas.
1.215
Total de candidatos registrados nas eleições deste ano no DF
Nome eleitoral
Confira quantos candidatos usam palavras relacionadas à profissão ou ao local de moradia no nome da urna:
» Professor: 68
» Pastor: 10
» Bispo: 2
» Dr.: 21
» Sargento:7
» Delegado: 6
» Major: 5
» Bombeiro: 3
» Ceilândia: 3
» Policial: 2
» “Dos animais”: 2
» Agente: 2