Rafaella Panceri
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Um adolescente de 16 anos agrediu e tentou esfaquear o vice-diretor do Centro de Ensino Fundamental 507 de Samambaia com um canivete. Suspenso na última quinta-feira após ter arremessado restos de melão nos colegas na hora do lanche, ele tentou entrar na escola à força por volta das 7h40 de ontem, mas foi impedido pelo vice e pelo vigilante. Segundo a direção, ele só poderia voltar acompanhado pelos pais. Os responsáveis sequer tinham telefone registrado na secretaria.
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Vice-diretor, pais e ex-alunos garantem que esse não é um caso isolado, mas a Polícia Militar considera a área segura. “Apenas necessita mais do nosso apoio”, define o tenente Marcos Silva, do 3º Batalhão de Policiamento Escolar. A Secretaria de Educação diz “aguardar o resultado da investigação policial” e não prevê ação imediata em resposta ao episódio de violência.
Por telefone, o servidor da direção detalhou o fato ao JBr.. “O aluno já estava suspenso, mas tentou entrar na escola. Quando eu disse que ele só entraria quando fornecesse o telefone da mãe ou estivesse acompanhado por ela, ele ficou estressado, nervoso, gritando, xingando, batendo o dedo indicador no meu peito. Tentou me dar um murro na cara, mas eu desviei e pegou no meu ombro. Afastei ele com um pontapé, tirei meu casaco e enrolei na mão, para me proteger. Nessa hora ele já tirou um canivete automático do bolso e tentou me furar”, narra, preferindo não expor seu nome.
O vigilante conseguiu separar a briga e pegar o canivete da mão do menino. “Ele foi embora em seguida. Uma servidora ligou para a polícia e, em cerca de 20 minutos, trouxeram o aluno e mais dois de volta”, conta o vice-diretor. Os garotos foram pegos perto do colégio com uma pequena quantidade de maconha, segundo o tenente da PMDF, Marcos Silva, e foram à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA II) para registrar ocorrência, acompanhados pelo vice-diretor. “Lá, ele ainda disse aos policiais que eu o agredi”, conta o servidor.
A mãe do garoto foi ao local e ele foi liberado. “Eu disse que não tenho nada contra o filho dela, mas que não dá para apanhar e ser esfaqueado”, admite. “Quando saí da delegacia, tentei encontrar as mães dos outros dois meninos, mas um endereço estava errado e outra casa estava vazia. Todos têm passagem por roubo a mão armada e por tráfico de drogas”, diz. A PMDF confirma os antecedentes, mas não especifica os motivos.
O episódio é comum no CEF 507, segundo relatos de pais e ex-alunos. Uma mulher que optou por não se identificar conta que os filhos e as sobrinhas já estudaram no colégio. “Teve até tiroteio aqui dentro. Tem muitas rixas de gangues, drogas, bandidos na porta. Tudo colabora para esse clima”, descreve. O filho dela, ex-aluno da unidade, diz que qualquer coisa é motivo para brigas lá dentro. “Tem muitas gangues. Há pessoas do bem, que gostam de estudar, mas muitas mexem com droga e brigam por causa de garotas”, revela.
A direção considera o ambiente vulnerável. “Esse é meu cotidiano. A gente encontra bala de fuzil, maconha e cocaína em cantos, com eles, no chão da escola. O que podemos fazer é tomar e mandar embora, porque chamar a polícia é pior. O traficante pode vir buscar a droga”, desabafa o vice-diretor, e diz que a violência é banalizada.
“Jogam objetos, lanches nos professores, xingam, ameaçam. Ações isoladas tentam atenuar, mas é uma coisa estrutural, de mudar a legislação e investir em educação. Nada vai mudar a curto e médio prazo”, opina. “Já registrei cinco ocorrências por agressão. É perigoso, porque uma hora podem me matar”, teme.