Do Metrópoles

Dois meses após o Metrópoles mostrar o estado de abandono das ciclovias do Distrito Federal, um relatório do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) confirma as mazelas apontadas pela reportagem. O documento revela que, de janeiro a junho de 2018, o Governo do Distrito Federal (GDF) investiu apenas 10% dos recursos disponíveis para infraestrutura nas pistas exclusivas para bicicletas. Dos R$ 32.998.097,00 da despesa autorizada para este ano, apenas R$ 3.353.247,67 foram realmente aplicados.

Ao represar o recurso, o Executivo local deixou em segundo plano a segurança de quem pedala pela cidade – são 465km de malha cicloviária. O desprezo por quem opta pelo transporte não motorizado também deve fazer um compromisso de Rodrigo Rollemberg ficar só no papel. O socialista prometeu encerrar o ano de 2018 expandindo a extensão das ciclovias para 600km, resultado improvável de ser alcançado, faltando apenas quatro meses para o fim de seu mandato.

A baixa execução do orçamento deixa de lado investimentos importantes na parte mais frágil da relação ciclista/motorista: as ciclofaixas. Sem nada que separe as bicicletas dos automóveis, além de uma faixa pintada no chão, a ausência de conservação desses espaços faz vítimas pelo DF.

A mais recente foi o tenente-coronel do Exército Maurício Cruz Carneiro de Almeida, 43 anos, morto nessa segunda-feira (20/8) ao ser atropelado por um ônibus que invadiu a ciclofaixa ao desviar de um carro. A tragédia ocorreu na QL 6 do Lago Sul. O militar chegou a receber os primeiros socorros no local, mas não resistiu aos ferimentos provocados pela colisão e faleceu no Instituto Hospital de Base (IHB).

Menos de 24 horas depois, Valdinei Cordeiro de Paiva, 45, foi atropelado no Eixo Monumental por um ônibus, próximo ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Socorrido, o homem apresentava suspeita de traumatismo craniano e escoriações. Ele estava consciente, orientado e estável, segundo os bombeiros. De acordo com parentes, a clavícula do servidor público saiu do lugar e é possível que ele tenha de passar por cirurgia.

Os acidentes com Maurício e Valdinei expõem os riscos aos quais os ciclistas do Distrito Federal são submetidos todos os dias ao saírem de casa em suas bicicletas. Nem mesmo a faixa de pedestres é segura para quem trafega sobre duas rodas. Na última quinta-feira (16), um homem de 58 anos morreu ao atravessar a rua na altura da 101/201 de Samambaia Norte. No local, não há via exclusiva para bikes.

Ciclistas cobram melhorias

O presidente da ONG Rodas da Paz, Bruno Leite, pede mais investimento e ligação entre as ciclovias já existentes. “Se você está em um bairro e quer ir para outro, não consegue, porque não tem continuidade”, critica.

Para Bruno, a sinalização também deixa a desejar. Ele cita como exemplo o acidente que ocorreu nessa terça-feira (21/8), em uma ciclofaixa na Esplanada dos Ministérios. “Aquilo ali é fruto de um erro de sinalização. A placa de atenção fica na curva, ninguém vê. Também falta campanha de conscientização dos motoristas”, diz.

Para o presidente da Rodas da Paz, a ciclofaixa do Lago Sul, onde o tenente-coronel do Exército morreu na segunda-feira (20), não oferece boas condições. “Para ser bem-feita, deveria ser igual à do Lago Norte ou de Águas Claras, com redução de velocidade e tachões. Ali mal tem pintura. Não é ciclofaixa, é acostamento”, opina.

Expansão

Em 2017, o GDF lançou um plano de ciclomobilidade, o +Bike. Além da ampliação dos espaços para a circulação de quem pedala, também constam no documento a criação de cinco novas estações de bicicletas compartilhadas na Universidade de Brasília (UnB), implantação de tais equipamentos em paradas do BRT e construção de 3 mil paraciclos em todo o Distrito Federal. Embora anunciado com pompa e circunstância, pouca coisa saiu do papel.

Até o plano mais ambicioso, a construção da ciclovia da EPTG, caminha a passos de tartaruga. A entrega da obra foi anunciada para janeiro. Depois, prometida para julho deste ano e, agora, o governo deu um novo prazo: o segundo semestre de 2018. Nos trechos já pavimentados faltam sinalização, acabamento e iluminação.

Alvo de crítica de grupos de ciclismo por não contemplar quem pedala, o planejamento do Trevo de Triagem Norte (TTN) para o deslocamento em bicicletas foi revisto. Apesar de a alteração ter sido feita há mais de um ano, as ciclovias ainda só existem na prancheta. O receio de quem pedala é de que a construção seja finalizada e os ciclistas fiquem a ver navios.

Outro lado

Por meio de nota, o GDF informou que tem investido cada vez mais na “mobilidade ativa”. “Em agosto de 2017, foi lançado o Plano de Ciclomobilidade, +Bike, que prevê a melhoria e a ampliação da infraestrutura cicloviária da capital, conectando as ciclovias já existentes e criando uma rede integrada para facilitar os deslocamentos dos ciclistas”, diz a nota.

Conforme informou a Secretaria de Mobilidade ao Metrópoles, foi realizado um diagnóstico que mapeou as ciclovias existentes e identificou os problemas de conexão e de infraestrutura da malha cicloviária do Distrito Federal.

“A implantação foi dividida em etapas, e cerca de 60km estão em obras e serão entregues até o fim do ano, sendo: 10,4km no Trevo de Triagem Norte; 5,7km na ligação Torto/Colorado; 25km na EPTG; 6,5km em Planaltina; e 12,5km no Lago Oeste”, informa o órgão.

Sobre a melhoria da segurança, o governo ressaltou a criação da Zona 30 – com velocidade máxima de 30km/h – como solução de mobilidade urbana para vias locais que visa acalmar o trânsito e estimular a convivência harmônica entre ciclistas, pedestres e automóveis.

 

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