No último domingo, 14, o Distrito Federal foi palco de um trágico episódio que resultou na perda irreparável de duas vidas de policiais militares, o que reacendeu a discussão sobre os desafios enfrentados diariamente pelos profissionais das Forças de Segurança. O Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF) alerta para a desvalorização profissional e os problemas psicológicos que permeiam os bastidores das Forças de Segurança do DF.
Em outubro de 2023, o Sinpol-DF divulgou os resultados de uma pesquisa interna alarmante: 74,4% dos policiais civis relataram ter enfrentado sintomas de ansiedade e depressão. Esse levantamento, feito com 328 policiais civis ativos e aposentados entrevistados, revelou que, apesar do alto índice de adoecimento, apenas 42,7% buscaram tratamento psicológico ou psiquiátrico.
De acordo com dados do Departamento de Gestão de Pessoas (DGP) da Polícia Civil do DF (PCDF), apresentados na pesquisa do sindicato, aproximadamente 400 policiais civis, equivalente a cerca de 7% do efetivo, anualmente apresentam atestado médico para afastamento das atividades devido a doenças mentais.
Metrópoles: Sindicato alerta sobre adoecimento mental também na Polícia Civil
A pesquisa destaca que o adoecimento está intrinsecamente ligado à desvalorização da categoria, que enfrentou perdas salariais em relação à inflação ao longo dos últimos anos. Além disso, o baixo efetivo na PCDF ainda persiste. Apesar da nomeação de 200 agentes e 100 escrivães de polícia ao final de 2023, o déficit continua em aproximadamente 60%. Enquanto isso, cerca de 1600 aprovados permanecem aguardando nomeações.
O presidente do Sinpol-DF, Enoque Venancio de Freitas, chama a atenção para a carga excessiva de trabalho imposta pela falta de efetivo. Os policiais civis, além das horas ordinárias, cumprem carga extra com o Serviço Voluntário Gratificado (SVG), uma medida para reabrir delegacias fechadas devido ao baixo efetivo, mantendo todas as unidades abertas 24 horas.
O sindicato ressalta que, embora o SVG tenha relevância para os cidadãos e contribua para complementar a renda do policial, a iniciativa criada pelo GDF nunca passou por manutenção, e o valor pago por hora está aquém do ideal. Incontestavelmente, essa inadequação tem um preço elevado: a saúde mental dos profissionais encontra-se em um estado alarmante de risco.
“Não é de hoje que denunciamos a falta de atenção e cuidados com os policiais. Todos estão trabalhando sobrecarregados há anos, e o limite chegou ao extremo, custando vidas. Expor esses profissionais à sobrecarga é colocá-los à beira do precipício diariamente. É preciso recompor urgentemente os quadros dessas corporações e valorizar o esforço dedicado por eles”, afirma Enoque.
Ele enfatiza, ainda, que a tragédia ocorrida neste último domingo não é um evento isolado, e que o descuido com a saúde dos policiais pode resultar em situações ainda mais graves. Enoque alerta para a urgente necessidade de implementação de medidas efetivas para preservar a saúde mental dos policiais, reconhecendo e valorizando o papel fundamental desempenhado por esses profissionais na segurança dos cidadãos.
“A nossa pesquisa reverberou nacionalmente, demonstrando a preocupação com o adoecimento mental dos policiais, uma vez que essa situação não é exclusiva do DF. O Estado precisa valorizar os profissionais da Segurança Pública. Aqueles que protegem e salvam vidas também merecem cuidados”, enfatiza o sindicalista.
O Sinpol-DF publicou nas redes sociais uma nota de pesar à Polícia Militar do DF (PMDF), manifestando solidariedade aos familiares das vítimas e aos colegas de farda. A nota reitera, ainda, a necessidade imperativa de o governo promover ações efetivas para o cuidado com a saúde mental dos profissionais da Segurança Pública do DF. Abaixo, veja a íntegra.
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