Carlos Eduardo Avelar da Conceição, escrivão de polícia aposentado, está há quase um mês sofrendo com o descaso e total desrespeito da Saúde do Distrito Federal depois de ter contraído o coronavírus e buscar tratamento na rede pública.
A família está desesperada com a situação e o total desprezo com o policial e, por isso, procurou o Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF) para denunciar o caso e buscar assistência jurídica.
O martírio do Carlinhos, como é conhecido entre os colegas, começou há mais de 20 dias quando, após sofrer uma convulsão e procurar por atendimento em um hospital de Valparaíso, foi diagnosticado com uma pneumonia e uma sepse – infecção do organismo que, no caso dele, é sequela da Covid-19.
O médico recomendou que ele fosse hospitalizado imediatamente. A família buscou ajuda e levou-o até o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), onde ele foi internado na enfermaria. Carlinhos, de acordo com a irmã dele, Cristiane da Conceição, recebeu tratamento e teve a pneumonia sanada. A sepse, contudo, não.
Ao ser submetido a uma tomografia, descobriu-se que, além daquela infecção, o policial civil aposentado estava com um edema no fígado e mal funcionamento dos rins. “Nós acreditamos que isso foi decorrente do tratamento, pois ele tomou bastante medicação”, explica Cristiane.
Para sanar o problema no fígado, foi colocado um dreno – que caiu por duas vezes. “No prontuário, a informação é de que ele o arrancou enquanto dormia. Mas não sei como isso seria possível, pois meu irmão estava sedado”, completa a irmã do policial.
A situação se agravou, segundo Cristiane, por causa do avanço da infecção, e foi recomendado que ele fosse para a UTI. Mas só havia vaga na rede privada, uma vez que o GDF firmou convênio com hospitais particulares por causa da pandemia.
TRANSFERÊNCIA
Carlinhos foi encaminhado ao Prontonorte já intubado. Lá, ele fez hemodiálise, mas, ainda assim, continuava tendo febre. No entanto, a situação se agravou. O médico recomendou que ele fizesse uma nova tomografia, a fim de verificar o estado da infecção, a qual foi feita e, segundo os médicos, solicitada à Secretaria de Saúde do DF a autorização desse procedimento.
No dia seguinte, a família recebeu a informação de que o procedimento havia sido negado e que ele seria transferido para um hospital público.
Carlinhos não tem plano de saúde – nem enquanto servidor da PCDF, situação já amplamente denunciada pelo Sinpol, tampouco pagando por conta própria – e, por isso, não poderia fazer o procedimento de outra maneira. E, além disso, tem sido submetido a uma situação de completo desrespeito a sua dignidade.
“Disseram que ele teria que ser transferido para a rede pública para fazer o procedimento. Fizemos vários apelos para que não o transferissem, pois o estado dele já era grave. Mas, ainda assim, levaram ele para o Hospital de Base”, relata.
Mas, para surpresa e desespero da família, o equipamento do Hospital de Base está quebrado e sem previsão de conserto. “Levaram meu irmão de um lado para o outro, em uma situação gravíssima, à toa; estão tratando como se ele fosse qualquer coisa”, lamenta a irmã do policial civil.
Segundo ela, Carlinhos tem uma tomografia do dia 27 de agosto, mas, ainda assim, precisa fazer outra. Além disso, o exame feito nos primeiros dias de internação para identificar qual bactéria causou a sepse ainda não tem o resultado pronto.
“Meu irmão já está com a saturação muito baixa. Se tiverem que transferi-lo novamente, ele pode não resistir. O Prontonorte tratou dele com muito descaso. Nós, agora, estamos ainda mais aflitos porque só temos notícia uma vez por dia, por telefone”, afirma Cristiane.
ACOMPANHAMENTO
O Sinpol acompanha o caso e disponibilizou o corpo jurídico da entidade à família. Mas denúncia é necessária, também, para reiterar o nível da falta de assistência à saúde para a categoria – realidade bem diferente das outras forças de Segurança Pública do DF.
Policiais civis do DF não dispõem de plano de saúde custeado pelo Estado, tampouco de uma rede de atendimento tão ampla (com hospitais e clínicas próprios, por exemplo) como outras corporações – cujos investimentos na área são bem maiores do que na PCDF, ainda que todas sejam custeadas pela mesma fonte de recursos: o Fundo Constitucional do DF.
Essa carência, na visão do sindicato, é absurda, injusta e sujeita os policiais civis à precariedade do atendimento da rede pública e a um tratamento que despreza completamente a contribuição desses servidores públicos à sociedade.
Embora estejam trabalhando normalmente durante a pandemia, não há nada assegurado aos policiais civis caso eles fiquem gravemente doentes em decorrência do coronavírus. Situações como do colega Carlinhos não podem ser naturalizadas e absorvidas como uma situação comum.
Para o Sinpol, não dá mais pra aceitar um tratamento tão desequilibrado entre as corporações. É urgente um tratamento equânime para a Saúde dos policiais civis do DF.
A despeito da contribuição que prestou durante toda a carreira na PCDF, Carlinhos agora é submetido a uma situação de sofrimento pela qual nenhum ser humano deveria passar – muito menos aqueles que colocaram, por muitos anos, a vida em risco em defesa dos demais.
Atualização: Carlinhos faleceu no fim da manhã desta quinta, 3 de setembro. Leia aqui a Nota de Pesar do sindicato.