Ordem de missão diz que agentes devem ‘acompanhar diretamente evento’ e ‘conduzir flagrantes à delegacia’. Corporação afirma que objetivo é ‘reforçar estruturas’ em delegacias.
Por Elielton Lopes, G1 DF
O Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol) divulgou uma “ordem de missão” assinada pelo diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, que convoca agentes da corporação para fazer a segurança do “Na Praia” – evento musical particular que acontece na Orla do Lago Paranoá. O documento é dirigido a policiais dos departamentos de gestão da informação, de polícia especializada, de polícia técnica e da divisão de comunicação.
O documento interno trata o evento como “missão especial” e pede que os agentes dos setores estejam disponíveis durante toda a programação, de 30 de junho a 27 de agosto. A ordem também detalha o público previsto durante os dias em que ocorre o “Na Praia” e descreve as atividades que devem ser desempenhadas pelos policiais escalados.
Os policiais civis escalados para o “Na Praia”, segundo a ordem de missão, devem “acompanhar diretamente o evento de forma a suprir eventual aumento do número de ocorrências criminais e de procedimentos de Polícia Judiciária da unidade circunscricionais no local do evento” e “conduzir as situações flagranciais, decorrentes do evento, para a 5ª Delegacia de Polícia”.
O que diz a polícia?
Em nota, a Polícia Civil disse que a ordem de missão tinha como objetivo “determinar diretrizes gerais para que os gestores dos diversos departamentos estivessem aptos a reforçar as estruturas da Polícia Civil, no sentido de não sobrecarregar os policiais civis dessas unidades, notadamente os de plantão, por eventuais recrudescimentos de demandas relacionadas às atividades de Polícia Judiciária, principalmente em decorrência do grande público previsto para o período do evento”.
A corporação afirmou ainda que “em momento algum, os policiais civis receberam determinação para exercer quaisquer atividades estranhas àquelas constitucionalmente afetas as suas atribuições institucionais de Polícia Judiciária”. A ordem de missão, segundo a nota, foi para “delinear a atuação de Polícia Judiciária da PCDF” no evento, assim como as demais forças de segurança do DF.
“Também não há qualquer previsão de atuação em evento particular/privado como quer fazer parecer a nota sindical, absolutamente desprovida de qualquer outra intenção que não a de atacar a Polícia Civil do Distrito Federal, com a criação de mais um factoide”, continua a nota.
Ao G1, a organização do evento informou que desconhece o fato e que “não houve nenhuma solicitação por parte do evento”.
A “missão” descrita no documento é feita, geralmente, em eventos similares, por policiais militares ou por segurança privada contratada pelas produções. Segundo o Sindicato dos Policias Civis do DF (Sinpol), o policiamento ostensivo, para “inibir a prática de crimes”, é tarefa da PM. À Polícia Civil, cabe o trabalho de investigação criminal, diz o sindicato.
Procurada, a Polícia Militar informou que segurança interna de eventos privados é de responsabilidade de empresas de segurança privada. A corporação só atua prestando apoio.
O Sinpol afirmou ainda que é contrário à escalação dos agentes para o evento. Em nota, o sindicato declara que “há dezenas de eventos privados, todos os dias e todas as semanas. E praticamente nunca servidores são convocados para atuar nesse tipo de atividade”.
A entidade também diz que os policiais destacados para o evento podem desfalcar as delegacias, já que a polícia opera com metade do efetivo ideal no DF. “A Polícia Civil hoje trabalha com apenas 50% do número adequado para seu efetivo, que seria de 8.900 policiais para uma população de cerca de 3 milhões de habitantes”, aponta o sindicato.