Do Metrópoles
Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial (Decrin) concluiu a investigação que apurou a agressão contra duas travestis ocorrida na região das quadras CSG, em Taguatinga Sul. A agressão aconteceu em plena luz do dia, na tarde de 18 de agosto, em local conhecido pelos pontos de prostituição. Os atos de violência chegaram a ser registrados por câmeras de segurança, que filmaram a ação dos dois suspeitos. Eles vão responder por lesão corporal.
O vídeo foi divulgado em 21 de agosto. As duas travestis agredidas, uma de 18 e a outra de 27 anos, não compareceram de imediato à polícia. Após o caso tomar repercussão, investigadores da 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) solicitaram que elas se apresentassem, o que aconteceu logo no dia 22 de agosto. Elas teriam, inclusive, se fingido de mortas para fugir dos agressores.
Os suspeitos, um de 37 anos e o outro de 38, registraram um boletim de ocorrência dizendo que foram vítimas. Os dois apresentaram a versão deles. De acordo com a delegada-chefe da Decrin, Ângela Maria dos Santos, que cuidou do caso, a versão das vítimas é a de que os suspeitos combinaram um programa sexual com as travestis, o que aconteceu em um motel. Os quatro ficaram no local por cerca de uma hora.
Lá, eles pagaram uma parte da conta, mas faltaram R$ 12. Um dos suspeitos teria deixado o relógio de garantia. Depois, os supostos agressores simularam um saque e entraram no carro com as vítimas.
“O carro parou no local da agressão e os suspeitos disseram que elas não tinham o direito de ‘ser mulheres’. Usaram palavras pejorativas e homofóbicas todo o tempo: ‘Desce do carro, se não vou te matar’, ‘Agora, você vai ver, seu viado desgraçado’, ‘Cala a boca, vocês não têm que dizer nada’. Depois, iniciaram o ataque”, contou a delegada.
Carro alterado
Para tentar despistar a polícia, eles mudaram a cor do Veloster branco. De acordo com Ângela, os autores deram entrada no Detran e pintaram o carro de vermelho. Um dos suspeitos rondava o local de trabalho das travestis, segundo a delegada, olhando com tom de ameaça. Por medo, as travestis teriam desistido de frequentar o local.
Ângela Maria explica que a versão dos autores do crime é totalmente diferente da história das vítimas. Eles dizem que passavam de carro na rua e as travestis se jogaram sobre o veículo, exigindo um programa. Depois, partiram para agressão, atingindo um deles com um estilete.
“Eles [os suspeitos] caem em contradição. Ao darem entrada no hospital, o primeiro depoimento dizia que tinha sido atingido por um vidro. Depois, mudou para estilete. E temos imagens deles entrando e saindo do motel, parte que não citaram no depoimento.”
Prisão preventiva
A polícia entendeu como tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil. Decretou-se a prisão preventiva porque as vítimas estavam acuadas de frequentar o local de trabalho. Contudo o juiz não entendeu assim, o que já desclassificou o tribunal do júri. O caso ainda pode ser classificado como homotransfobia, mas será julgado como lesão leve ou grave.
Assim, a pena vai de três meses a cinco anos. Se fosse tentativa de homicídio, seria de 4 a 20 anos. A prisão preventiva foi declarada, mas não cumprida. “A investigação foi toda concluída, mas, infelizmente, a Justiça teve outro entendimento”, declarou a delegada.
“O início da investigação se deu pela imprensa, que nos procurou. Foi de extrema importância o trabalho de vocês. Ainda falta muito a ser entendido pela sociedade em relação a esses crimes de homotransfobia, porque já é um grupo vulnerável”, comentou a delegada.
No vídeo, é possível ver um dos homens com um pedaço de pau na mão, enquanto outra pessoa vai até o canteiro para pegar mais uma madeira. A briga se divide até o momento em que uma das travestis cai desacordada.
Logo após, os dois ofensores partem para cima da outra vítima, que também fica caída no chão. Na tentativa de escapar do local, um dos agressores arranca com o carro e quase deixa para trás o outro responsável pelo espancamento.