Do Metrópoles

O homem preso pela Polícia Civil confessou aos investigadores que matou e esquartejou o vigilante Marcos Aurélio Rodrigues de Almeida, 32 anos. Durante o depoimento, no entanto, ele insistiu que a mulher, outra suspeita presa, não teve participação ativa no crime. O Metrópoles apurou que os suspeitos apresentaram versões divergentes sobre o fato. A reportagem também esteve na casa onde o assassinato teria ocorrido e notou várias manchas de sangue.

Nesta quinta-feira (14/11/2019), equipes da 32ª Delegacia de Polícia (Samambaia Sul), responsável pelo caso, farão uma varredura nos endereços onde partes do corpo de Marcos (foto em destaque) foram localizadas. O objetivo é reconstituir a dinâmica do homicídio, praticado com requintes de crueldade. A outra suspeita é ex-namorada do vigilante, e os policiais investigam se ela armou uma emboscada para atrair a vítima e se participou do assassinato.

Há mensagens de WhatsApp e Instagram que mostram o fim de relacionamento entre Marcos Aurélio e a suspeita. “Sinceramente, não tenho absolutamente mais nada para falar com você. Espero que tenha a decência de não atrapalhar minha relação, pois faço o possível e o impossível para não deixar que mais nada atrapalhe o nosso amor, meu e da Fran, ok? Passar bem”, escreveu Marcos em mensagem direcionada à suspeita. Francisleide e Marcos ficaram noivos neste ano, mas terminaram em agosto e reataram em outubro.

Durante as diligências, os policiais vão em busca de câmeras de residências e estabelecimentos comerciais que possam contribuir com a elucidação do caso. O corpo da vítima também passará por análise, inclusive de DNA. Somente depois dos resultados da perícia é que acontece a instrução do inquérito policial. Por enquanto, os agentes seguem procurando a cabeça, única parte do corpo de Marcos Aurélio que ainda não foi encontrada.

Uma vez que o crime ainda está sob investigação, o Metrópoles, por enquanto, não vai divulgar os nomes dos dois suspeitos.

Casal discreto

No Conjunto 8 da QR 325 de Samambaia, onde vivia o casal suspeito de assassinar e esquartejar Marcos Aurélio, os moradores estão horrorizados. Os dois acusados, que raramente eram vistos na rua, residiam há menos de um ano no local e não tinham contato com os vizinhos. Ela era autônoma e ele trabalhava em um mercado.

“Eles nunca saíam de casa. Estavam sempre fechados, só eles e uma adolescente, filha dela. Era muito difícil conversar com eles”, comentou uma mulher que mora em frente à casa dos dois. “Moro aqui há 19 anos, e nunca houve caso assim. Criei meus filhos no meio da rua, porque sempre foi tranquilo aqui – e, de repente, acontece isso. É de chocar mesmo”, complementou a vizinha, que preferiu não ser identificada.

Ao Metrópoles, ela relatou ter visto Marcos Aurélio visitar a ex-namorada três vezes recentemente. “Ele vinha aqui de noite, e eu o via ali, no portão, com ela. Quando vi na televisão, o reconheci na hora”, contou.

Moradora de um imóvel próximo, uma jovem de 18 anos reforçou a rotina reservada dos suspeitos. “Ela alugou a casa há menos de um ano, e ele veio morar com ela. Mas não sei nada deles. Nunca saíam de casa. Quando a gente via, eles não falavam nem bom dia”, afirmou.

A vizinha contou, ainda, não ter visto nenhuma movimentação estranha nos últimos dias. “Eu nem o vi saindo de casa. Só fiquei sabendo depois. Moro aqui ao lado, a minha vida toda, e nunca vi isso.”

Fim do relacionamento

Inconformada com o fim do relacionamento, a mulher teria decidido tirar a vida de Marcos Aurélio. Segundo as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ela armou uma emboscada para a vítima e, com a ajuda do comparsa, esfaqueou e depois esquartejou o segurança particular. O crime brutal teria ocorrido no sábado (09/11/2019). A 32ª Delegacia de Polícia (Samambaia Sul) tenta descobrir as circunstâncias que levaram o suspeito a aceitar o convite para cometer a barbárie.

O homem e a mulher tiveram a prisão temporária decretada por 30 dias, nessa quarta-feira (13/11/2019). Marcos Aurélio teria, no sábado, após voltar do trabalho, passado na casa da acusada. Para encobrir o assassinato, os pedaços do corpo foram colocados em sacos plásticos e descartados em locais distintos de Samambaia Sul.

Mensagem de luto

A mulher detida e apontada pela PCDF postou, na terça-feira (12/11/2019), mensagens de luto pela morte de Marcos Aurélio. No Facebook, ela escreveu “Inacreditável”. A palavra era acompanhada de emojis de choro com uma foto em preto e branco.

Nessa quarta-feira (13/11/2019), ao tomarem conhecimento da prisão da mulher, dezenas de pessoas foram ao perfil da suspeita para xingá-la.

Cães farejadores

Durante a tarde dessa quarta, com ajuda de cães farejadores, militares do Corpo de Bombeiros tentaram encontrar a cabeça do vigilante esquartejado no Aterro Sanitário de Brasília, situado às margens da DF-180 de Samambaia. Os cachorros chegaram a ser soltos no local destinado ao depósito de lixo, mas tiveram o trabalho prejudicado devido ao excesso de odores.

Enquanto aguarda o desfecho das investigações, a família do vigilante clama por justiça. A mãe de Marcos Aurélio, Sônia Maria Rodrigues de Almeida, 56, não se conforma com a crueldade. “O que fizeram com ele não tem perdão. Eu só tinha ele e outra filha [Marcele]. Eu era pai e mãe deles, criei sozinha”, afirma Sônia. Ela não come ou dorme direito desde sábado (09/11/2019). Na manhã daquele dia, Marcos fez o último contato, dizendo que estava saindo do trabalho e indo para casa.

Na madrugada dessa quarta-feira (13/11/2019), a PCDF encontrou uma coxa que pertenceria a Marcos, na Quadra 325. Estava em um beco no Conjunto 2 da quadra. Outras partes de Marcos Aurélio foram localizadas desde o início da semana. O tronco do segurança estava em um saco de lixo localizado na manhã de terça (12/11/2019), em um bueiro na QR 327. Nessa segunda-feira (11/11/2019), foram achados os braços e as pernas (abaixo do joelho). A cabeça ainda não foi encontrada.

“Rapaz trabalhador”

Sônia havia construído uma casa para Marcos e a irmã, Marcele. O vigilante, com casamento marcado para janeiro de 2020, iria morar no imóvel. “Não deu tempo”, lamenta-se a mãe. “A gente estava fazendo planos para o casamento, para comprar os móveis. A falta que ele está fazendo abriu um rombo no coração da família toda”, confirma Francisleide Braga de Souza, 38, noiva da vítima.

“Marcos era responsável, não vinha de malandragem. Estava trabalhando. Era de casa para o trabalho. Não era de sair e não tinha inimigos”, aponta Sônia. “Um rapaz trabalhador, um pai honesto, um filho digno. Não tinha inimizade com ninguém”, garante a noiva.

Uma vizinha que não quis se identificar confirma a fama de bom moço de Marcos. “Ele era bom como vizinho e não merecia isso que aconteceu. Eu falava direto com a mãe dele. Aquele menino era tudo para a mãe dele”, diz.

Já Rafael Correia, 28 anos, mora na região. Diz que a vizinhança, de modo geral, é bem tranquila, mas ele acredita que o crime acende o alerta sobre a violência. “É uma situação complicada, porque quase nunca acontece nada aqui. Nunca ouvi falar de roubos ou furtos, moro aqui há dois anos. Fico preocupado porque tenho família”, pontua.

Primeiras informações

Na terça-feira (12/11/2019), a irmã de Marcos disse ao Metrópoles que o corpo estava a cinco quadras do local onde a vítima morava. A família informou que o segurança desapareceu quando voltava do trabalho, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), e seguia rumo à Rodoviária do Plano Piloto. No terminal, pegaria um ônibus de volta para casa.

O homem deixa um filho e uma noiva. “Ele mandou mensagem para a mãe, pela última vez, às 8h30 de sábado [09/11/2019], informando que estava indo do SIG para a Rodoviária do Plano Piloto. Depois disso, não apareceu em casa nem manteve nenhum tipo de contato”, destacou a irmã.

De acordo com a noiva, os pés e as mãos eram parecidos com os do segurança. “Além disso, tem uma cicatriz no antebraço direito idêntica à dele”, lamentou. Segundo ela, Marcos não tinha inimigos nem qualquer tipo de desavenças.

Perícia

Conforme o Metrópoles apurou, parte do cadáver foi deixada no bueiro, de cerca de 3 metros de profundidade, há poucos dias. Após a coleta de digitais e exame de DNA, o Instituto de Medicina Legal (IML) confirmou a identidade da vítima.

Rosemberg Silva, 51, mora em uma chácara perto do terminal. Para ele, a região é segura. “Vivo há dois anos e meio aqui. Todo dia faço o trajeto do terminal até a minha casa, e nunca foi perigoso. Meu filho também anda por essa região, às 23h, e nunca aconteceu nada com ele. É o primeiro caso que vejo de violência, mas acho que nem aconteceu aqui, devem ter cometido o crime em outra região e só desovado o corpo aqui”, destacou.

O comerciante Abimael Victor, 41, diz que a região merece atenção das autoridades da área de segurança. “[O local] É muito isolado e com pouca iluminação. Fiquei muito surpreso com essa história do corpo, porque nunca tinha visto nada com essa crueldade toda”, assinalou.

 

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