Do Metrópoles
Peritos da Polícia Civil do Distrito Federal alcançaram nota máxima em um exercício promovido pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). O conceito máximo no teste tornou a Seção de Perícias e Análises Laboratoriais do Instituto de Criminalística referência internacional.
A avaliação realizada pela ONU consiste em verificar amostras de urina desconhecidas. Os materiais são enviados aos laboratórios em maletas lacradas. As ampolas são identificadas apenas com códigos. Os peritos são desafiados a identificar substâncias como drogas e medicamentos. O objetivo é testar a qualidade dos métodos usados pelos laboratórios, além da capacidade técnico-científica dos profissionais.
Os especialistas da PCDF identificaram corretamente todas as drogas e metabólitos presentes nas amostras como: cocaína, morfina e metadona. Os testes ocorrem duas vezes por ano. Participaram desse exercício centenas de laboratórios espalhados por diversos países-membros da ONU. Ao Metrópoles, o perito criminal da Polícia Civil Luciano Arantes ressaltou a importância da participação dos profissionais nesse tipo de exercício internacional.
“É um reconhecimento de todo nosso esforço e dedicação. Reflete como temos trabalhado esses anos todos para oferecer à sociedade do Distrito Federal o que há de melhor na ciência aplicada à solução de crimes. A parceria da PCDF com o UNODC permitiu que sete outros laboratórios forenses participassem desse importante exercício colaborativo internacional : PB, BA, ES, MG, SP e SC”, explicou.
A Assessoria de Comunicação da corporação (Ascom/PCDF) divulgou um vídeo explicando sobre o desafio. Confira:
100 análises por semana
A cada mês, duas novas drogas sintéticas surgem no Distrito Federal. Em apenas seis meses, os peritos do Instituto de Criminalística (IC) da corporação identificaram 15 novas substâncias apreendidas nas ruas. Ou seja, duas drogas nunca antes vistas por mês, apenas na capital da República. Investigações apontam que as drogas são desenvolvidas por químicos na Ásia e na Europa, então distribuídas por meio de navios para diversos países, entre eles o Brasil. Elas chegam em forma de cristal ou em pó.
Segundo o perito criminal Luciano Arantes, os laboratórios clandestinos do Brasil misturam esse princípio ativo com medicamentos de livre comercialização e corantes, para formar comprimidos, ou o colocam, ainda em forma líquida, em papel com uma gramatura específica.
Cada um dos nove peritos especializados em entorpecentes do IC faz, em média, 100 análises por semana. Eles atendem a demanda de todas as delegacias do Distrito Federal. Inicialmente, é feito um teste prévio utilizando reagentes. O método é usado apenas para dar uma “direção” para os profissionais.
O Metrópoles acompanhou esse primeiro passo realizado no IC. Uma pequena amostra do primeiro comprido analisado é colocada no recipiente e, ao se adicionar o reagente, o líquido ganha cor amarelada semelhante a uma gema de ovo.
Essa coloração indica que se trata de n-etilpentilona, a mesma droga que matou a universitária Ana Carolina Lessa, 19, em 23 de junho de 2018. Já o no segundo teste, o reagente provoca um cor azulada ou um preto intenso, cores que indicam: o entorpecente é MDMA (metilenodioximetanfetamina), o mais comum entre as apreensões de comprimidos no DF. Só no ano passado, de janeiro a outubro, foram 178 registros.
Após esse processo, os testes são feitos em uma máquina chamada de CG-EM, que identifica diferentes substâncias dentro de uma amostra.
Confira:
Os primeiros registros de uso da n-etilpentilona no Distrito Federal ocorreram em 2016. Em três anos, foram mais de 50 ocorrências. Apenas de janeiro a março de 2018, o IC contabilizou 13 apreensões da droga. Em uma delas, feita em agosto, a polícia localizou 150 comprimidos da substância, que também é vendida em forma líquida, de selo ou cristal.
LSD
Luciano Arantes afirma ainda que, atualmente, apenas 5% dos selos apreendidos no Distrito Federal são LSD. Dados do Instituto de Criminalística da PCDF constataram que, de 2009 a 2012, 100% das apreensões eram de LSD. Depois do primeiro semestre de 2013, o número caiu para 50%.
A partir de 2014, os peritos identificaram a comercialização dos NBOMes, conhecidos também como Smiles ou N-bombs, fortes alucinógenos sintéticos vendidos como alternativas ao LSD. Nesse grupo, estão a 25B-NBOMe, 25I-NBOMe e a 25C-NBOMe.
Todas essas substâncias submetem quem as usa a altos riscos de overdose. Usuários relatam que, ao consumirem essas drogas, sentem grande confusão mental, coração acelerado e alucinações. Em 2014, a Anvisa incluiu 11 tipos de NBOMes na Portaria n° 344. Em 2016, também foi identificada a família NBOH: 25I-NBOH e 25B-NBOH, além do DOC.