Do Metrópoles
A Polícia Civil do DF prendeu nesta quinta-feira (24/10/2019) um suspeito de matar a vendedora Noélia Rodrigues de Oliveira, 38 anos. Os agentes também cumpriram mandados de busca e apreensão. Até a publicação desta reportagem, não foi informado o nome do alvo das ordens judiciais. Uma coletiva de imprensa foi convocada para esta tarde.
Ao Metrópoles, o advogado da família, Geraldo Madureira, contou que o suspeito é um vizinho da vítima. Ligações referentes ao número de celular dele teriam sido encontradas na conta do telefone de Noélia. O marido dela, desconfiado, levou as faturas até a polícia, disse o defensor. Ainda de acordo com Madureira, o homem foi preso em casa, na Ceilândia.
“Levamos os documentos como provas na terça-feira para a delegacia. Lá, os policiais confrontaram com outras informações que já tinham e conseguiram realizar essa prisão”, informou o advogado.
A informação foi confirmada por Marcos Aurélio Silva de Oliveira, sobrinho da vítima. “É o vizinho realmente. Ele foi preso no dia de hoje. Agora, quanto ao motivo do crime, ainda aguardamos essa resposta”, disse.
De acordo com o familiar de Noélia, o suspeito é casado, tem dois filhos e trabalha como operário. Questionado se o homem confirmou o feminicídio, Marcos não soube informar. “Minha família está aliviada e foi uma surpresa imensa. Agora, é tentar superar tudo isso”, assinalou.
O crime
Noélia foi encontrada morta na última sexta-feira (18/10/2019) no Assentamento 26 de Setembro, em Vicente Pires. Segundo peritos do Instituto de Criminalística (IC) que analisaram o local onde o crime ocorreu, a vendedora levou um tiro à queima-roupa no rosto. O caso é investigado pela 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires).
O Metrópoles teve acesso a informações que fazem parte do laudo preliminar sobre o feminicídio. De acordo com o trabalho da perícia, o disparo feito próximo à face de Noélia indica que ela poderia estar dentro de um veículo, supostamente usado pelo autor do crime, mas não há conclusão sobre essa hipótese. O que se sabe é que um carro passou perto do local do assassinato após seu cometimento, uma vez que foram encontradas marcas de pneus ao lado do corpo da vítima.
Nenhum dos automóveis periciados até o momento possui as mesmas características do veículo supostamente usado pelo autor do crime. Outro detalhe identificado pela perícia é que alguns objetos da vendedora foram levados após o homicídio.
Noélia foi vista pela última vez com vida na saída de um shopping na Asa Norte, local onde trabalhava, por volta das 22h de quinta-feira (17/10/2019). Nas imagens, é possível observar a vendedora ao celular.
À polícia, o marido da vítima contou que falou com a mulher por telefone, dizendo que a buscaria no ponto de ônibus, como era rotina do casal. Dessa vez, porém, Noélia não desceu do ônibus, o que levou Marcos Paulo Mendes Santana, 42, a iniciar uma campanha de “procura-se” na internet, além de acionar a PCDF.
Segundo colegas de trabalho, Noélia disse que iria para casa de carona naquele dia. As informações não batem com o que ela disse o marido. Imagens de fora do shopping mostraram a vendedora indo rumo ao Setor Hoteleiro Norte (SHN). Dois carros teriam se aproximado da vítima. Com medo, a mulher teria tentado se esconder em uma moita. As imagens, entretanto, não são de boa qualidade.
O corpo de Noélia foi encontrado no dia seguinte ao desaparecimento. O enterro foi realizado nesse domingo (20/10/2019). Ela tinha três filhos: dois meninos, de 16 e 5 anos, e uma garota, de 9.
Noélia era a caçula de 14 irmãos. Um deles, Odemar Oliveira Guedes, 42, veio do Tocantins para o enterro. “Meus pais moram no Ceará e não puderam vir pela idade. Só Deus sabe o que estão passando. Queremos que as autoridades tomem providências. Minha irmã era muito trabalhadora”, desabafou. “Só Deus sabe o que estamos sentindo. Espero que a justiça seja feita, a de Deus e a do homem.”
Violência doméstica
A vítima já havia registrado duas ocorrências de violência doméstica contra o atual marido – com quem tem dois filhos –, em 2010, e contra o ex-companheiro, pai de seu primogênito, em 2007. As denúncias não prosperaram nem chegaram à Justiça. Não há, porém, informação sobre se a vítima retirou as queixas ou se os inquéritos foram arquivados.
Segundo a delegada-chefe da 38ª DP, Adriana Romana, Marcos Paulo “não é tratado como suspeito”. No final de semana, o advogado dele, Geraldo Madureira, disse a jornalistas que o cliente era considerado pela PCDF como suspeito.
Nessa segunda (21/10/2019), o defensor do companheiro da vítima se explicou: “A delegada começou a investigação por essa linha, porque ele era marido. Então, foi tido como suspeito. Nas ocorrências policiais, ele não era tratado assim. Mas, pelas atitudes tomadas pela Polícia Civil, como por exemplo, mantê-lo desde as 16h até as 22h na delegacia, ele era suspeito”, salientou.
Agora, Marcos Paulo está “aliviado”, de acordo com Madureira. “Sempre falamos que ele era inocente. Nós oferecemos para a investigação tudo que podíamos para provar que ele não tem nada a ver com com essa barbaridade que ocorreu”, justificou. “Está torcendo para que, agora, o criminoso seja identificado e preso”, complementou.