Do G1/BRASÍLIA
O Disque 100 recebeu 4.953 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes em todo o país nos primeiros quatro meses do ano – média de 41 casos por dia. Os dados foram divulgados pela Ouvidoria Nacional da Secretaria Especial de Direitos Humanos nesta quarta-feira (18). O número de denúncias é menor do que o registrado no mesmo período de 2015, quando o serviço do governo federal recebeu 6.203 denúncias.
A coordenadora-geral de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, Heloiza Egas, afirma que a queda pode ser atribuída a diferentes fatores. Um deles é o aprimoramento da sondagem do Disque 100. Recebendo mais detalhes sobre cada denúncia, os atendentes podem fazer uma classificação mais detalhada e atribuir as denúncias a outras categorias. Ela destaca, ainda, o papel do Proteja Brasil.
“O aplicativo Proteja Brasil é mais um dos canais de denúncias de violações de direitos humanos. Ele foi lançado inicialmente apenas para receber casos relativos a violações contra crianças e adolescentes. Agora, o usuário pode denunciar qualquer tipo de violação de direitos humanos, com acesso direto ao formulário e eliminando a etapa da ligação, o que facilita o acesso”, afirma Heloiza.
A Ouvidora Nacional de Direitos Humanos, Irina Bacci, declara que a queda no número de denúncias não aponta para uma diminuição da violência. Irina avalia que dois fatores influenciam a redução: o primeiro é o aumento dos públicos atendidos pelo Disque 100.
“Até 2010, este era um espaço exclusivo para denúncias de violações contra crianças e adolescentes. Depois, foi ampliado para acolher denúncias de outros públicos. Quando um mesmo canal é usado para receber diferentes relatos, é normal que o quantitativo de cada segmento individual diminua”, explica.
O aprimoramento da rede de proteção à criança e adolescente seria o outro fator que também influencia na quantidade de denúncias. “Nos últimos cinco anos, nós qualificamos e estruturamos esta rede, equipando conselhos tutelares e dando à população uma nova porta de entrada para as denúncias, que entram pela via do sistema de conselhos, e não pelo Disque 100.”
Divisão regional e perfil dos envolvidos
São Paulo tem a maior quantidade de registros, com 796 reclamações, 16% do total nacional. Em seguida, estão a Bahia, com 447 registros; Minas Gerais, com 432 casos denunciados; e o Rio de Janeiro, com 407.
A maior parte das vítimas é do sexo feminino. A distribuição etária é variada: 31% das denúncias indicam violência sexual contra adolescentes de 12 a 14 anos, 20% das denúncias se referem a adolescentes entre 15 e 17 anos, e outros 5,8% de crianças entre 0 e 3 anos. Há relatos em todas as faixas etárias.
Os suspeitos, na maioria, são homens (60%). Grande parte das denúncias indicam casos que aconteceram no ambiente familiar: os denunciados são a mãe (12,7%), o pai (10,54), o padrasto (11,2%) ou um tio da vítima (4,9%). Também são listados também professores, cuidadores, empregadores, líderes religiosos e outros graus de parentesco.