Do Correio Braziliense

Só nos quatro primeiros meses, houve 549 ocorrências de roubo a pedestres na Asa Sul. Para o comandante, sensação de insegurança está ligada à impunidade

Casas gradeadas, muros altos, cercas elétricas e alarme. Câmeras de segurança do lado de fora de residências, prédios e lojas. Motoristas desconfiados ao entrar e sair do veículo. E pedestres que seguram a bolsa firme rente ao corpo. Assim se protege quem mora ou circula pelas asas Sul e Norte. Antes consideradas áreas privilegiadas, elas se tornaram alvo de bandidos que agem a qualquer hora.

Em quatro dias, duas mulheres foram vítimas de assaltantes em quadras e horários diferentes na Asa Sul. O caso mais recente aconteceu pouco depois da meia-noite de terça-feira, em um bloco da 307 Sul. Câmeras de segurança do prédio flagraram a ação. As imagens mostrando uma mulher chegando para abrir a portaria, olhando para trás, quando, ao tentar entrar no prédio, é surpreendida por dois homens. A vítima se desespera, e se rende às exigências dos bandidos. O primeiro arranca a bolsa dela e tira o relógio. O segundo aparece e dá cobertura ao comparsa. A dupla foge e a mulher, assustada, sai correndo para o outro lado do prédio.

O outro assalto aconteceu às 10h de 12 de maio. Nas filmagens, uma mulher aparece lavando a calçada em frente à residência. Um homem de bicicleta passa por ela e observa a cena. Depois, ele volta e, com violência, puxa o celular que ela guardava na blusa. Assustada, a mulher volta para dentro de casa. Com as imagens, a polícia conseguiu identificar o homem e o prendeu.

De janeiro a abril, houve 549 ocorrências de roubo a pedestres na Asa Sul: 137 casos por mês e uma média de mais de quatro por dia. No mesmo período do ano passado, a polícia registrou 561 assaltos desse tipo (veja arte). Os dados são da Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal.

Precaução

Após os últimos episódios nas duas quadras, moradores e comerciantes ficaram mais preocupados. É o caso da economista aposentada Aidée Almeida. Ela frequenta semanalmente um salão de beleza na 307 Sul e, na quinta-feira, estacionou o carro em frente ao prédio onde uma moradora foi rendida por bandidos. Ao deixar o estabelecimento e voltar para o veículo, a moradora da 305 Norte segurava com força a bolsa e as sacolas. Atenta, olhava para os lados e andava apressada. “Hoje em dia, temos medo de gente. Quase não vejo policiamento aqui, o que ajudaria a inibir os casos, mas a impunidade também está muito grande”, lamentou.

Na mesma quadra, um brechó foi assaltado três vezes. Após o último episódio, a família que administra o negócio investiu em grades, alarmes e câmeras internas. Segundo o marido da proprietária, Bruno Nazário, 65 anos, um dos fatores que contribui para a sensação de insegurança é a presença de moradores de rua e usuários de droga na quadra. No entanto, ele explicou que o movimento é rotativo. “Eles não estão aí esses dias, por exemplo. Mas percebo uma violência generalizada atingindo todas as camadas sociais. De vez em quando, a polícia aparece, principalmente quando acontece uma ocorrência, mas depois some”, reclamou o aposentado.
Já na 703 Sul, moradores se queixam do fechamento do antigo Posto Comunitário de Segurança que ficava a 100 metros das casas. Agora, existe só a carcaça que identificava o ponto da PM. Também próximo às casas, há a Praça da Convivência. Segundo quem vive e trabalha no local, o espaço virou reduto de moradores de rua e usuários de droga que se deslocam para a área residencial e batem nas portas.

Assassinato

Na Asa Norte, uma suposta disputa de droga terminou com o assassinato de Eduardo dos Santos Lobo, 34 anos, em uma troca de tiros flagrada por câmeras de segurança de um posto de combustíveis, em 20 de abril. As cenas protagonizadas às 6h30 de uma quinta-feira, véspera de feriado, ficaram marcadas como faroeste. Uma das suspeitas, Rafaela Teixeira de Souza, 28, está presa desde o dia do crime. Os outros dois participantes, Eduardo Adrien Cunha Neto e Rafael Arcanjo Gomes de Abreu, continuam foragidos.

Brasiliense nascido e criado na Asa Norte, o servidor público Ernesto Reis, 53 anos, mora na SQN 308. Embora acredite ser uma quadra relativamente tranquila em relação a outras regiões do DF, ele toma precauções. “A violência tem aumentado e tende a piorar. Costumo tomar muito cuidado para não ser vítima. Por exemplo, não chego e logo estaciono o carro. Primeiro passo, dou uma olhada e desço de forma muito rápida”, destacou.

Na mesma quadra um restaurante já foi alvo de bandidos uma vez. Dono do estabelecimento que funciona há sete anos, Rosnei Kulybaba, 32, calculou um prejuízo de aproximadamente R$ 5 mil. “Policiamento, eu quase não vejo. Quando tem eles passam com as luzes ligadas, como se fosse para anunciar: ‘foge que eu estou passando’. Prevenção não existe. Chego aqui todos os dias às 7h e nunca faço o mesmo caminho. Um dia paro na comercial, no outro, na área residencial, e por aí vai. A gente trabalha ao Deus-dará”, desabafou.

Para o responsável pelo Comando de Policiamento Regional Metropolitano da PM, o tenente-coronel Fernando Luiz Alves, a sensação de impunidade está ligada, diretamente, à impunidade. “Hoje, nós prendemos um criminoso com até cinco passagens pelo mesmo delito e ele volta para rua de forma muito precoce”, alegou.

Ele garantiu que a PM faz rondas ostensivas, com base nas estatísticas. Segundo o oficial, há 80 policiais para fazer a segurança das Asas Norte e Sul, mas, dependendo da necessidade, o efetivo é reforçado. “Trabalhamos em cima de horários e dias específicos, mas o crime migra. Trabalhamos em cima das ocorrências e do deslocamento delas. Outro problema é que se tem uma ideia equivocada que polícia na rua resolve o problema, mas temos pessoas que entram no crime cada vez mais precocemente. E, muitas vezes, uma situação específica depende de outros órgãos que não apenas a Polícia Militar.”

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