Do G1

Suspeita é de que médicos tenham fraudado folha de ponto para anotar horas extras que não fizeram e para justificar falta ao trabalho.

Fraude em folha de ponto em UTIs de hospital público do DF é investigada
Suspeita é de que médicos tenham fraudado folha de ponto para anotar horas extras que não fizeram e para justificar falta ao trabalho.

Mais um escândalo na saúde pública de Brasília: a polícia rastreou um esquema de fraudes na folha de ponto das UTIs do maior hospital da capital federal. Os acusados são os próprios médicos.

A polícia investiga o que médicos andavam fazendo, quando deveriam estar dando prioridade aos pacientes em situação mais crítica, internados em Unidades de Terapia Intensiva. A suspeita é de que tenham fraudado a folha de ponto para anotar horas extras que não fizeram e para justificar falta ao trabalho.

O maior hospital público de Brasília – no centro da capital – é alvo do Ministério Público e da Polícia Civil. As equipes recolheram computadores e caixas de documentos, como fichas de frequência e de horas extras. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão em uma faculdade pública de medicina e na casa de uma médica.

A investigação começou depois que uma médica denunciou o esquema. Os promotores suspeitam de irregularidades no registro de frequência e de atestados de servidores do hospital. Investigam se médicos burlaram o cumprimento da escala ao registrar horas extras que não foram feitas e falsificar documentos para justificar folgas. Tudo isso, segundo o Ministério Público, em uma área sensível e que não pode parar nunca: a Unidade de Terapia Intensiva.

A polícia cumpriu mandados de condução coercitiva e levou três servidores e 13 médicos para prestar depoimento na delegacia. Um dos médicos foi a ex-chefe da UTI Vânia Maria de Oliveira. Na saída, de rosto coberto, ela negou qualquer participação.

“Não existe nada disso. Perseguição pessoal”, disse a médica.
Segundo o MP, o esquema de fraudes nas escalas era gerenciado por ela, contando, ainda, com a conivência do então diretor do hospital, o médico Julival Ribeiro. Para o MP, não há como um esquema desse tamanho se sustentar sem a ativa participação deles.

O ex-diretor afirmou desconhecer qualquer irregularidade na escala da UTI na gestão dele.

“Quem são os responsáveis diretamente pelas escalas é cada chefe de unidade, nenhum diretor do mundo tem condições de controlar quatro mil e tantos funcionários, ponderou Julival Ribeiro.

Na mitologia grega, Hígia, que batizou o nome da operação, era a deusa da saúde e da limpeza, associada à prevenção de doenças e à continuação da boa saúde. Todo o material apreendido e levado para a delegacia vai ser periciado. A investigação vai apurar os crimes de peculato, estelionato, falsidade ideológica, falsificação de documentos, associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informática.

A Secretaria de Saúde diz que tem fiscalizado cada vez mais o cumprimento da escala de trabalho. E que os casos também serão investigados internamente.

“Todos os casos denunciados e todos os casos apontados serão tratados, a questão dos superiores dando aval a prática indevida, a prática ilícita, também está sendo apurada”, afirmou o corregedor da Secretaria de Saúde, Fábio Henrique.

Mas para os promotores, ainda falta fiscalização. Prejuízo que vai além do dinheiro público pago indevidamente. Reflete em leitos fechados e em risco de vida.

No ano passado a Secretaria de Saúde pagou R$ 125 milhões em horas extras. Os investigadores encontraram casos de médicos que registraram tantas horas extras que seria impossível cumprir, como plantões de 36 horas em quatro fins de semana seguidos – fora o expediente normal.

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