Do G1-DF

Veículo estava em área coberta no estacionamento do Detran, diz vítima; órgão diz que responde apenas por algumas vagas. Policiais e vigilantes disseram que ‘esquema é conhecido’.

O carro 0 km de um aposentado de 62 anos do Distrito Federal foi furtado na tarde desta quarta-feira (22), minutos após deixar a concessionária, enquanto o dono protocolava o pedido de emplacamento em um posto do Detran. A família registrou ocorrência na Polícia Civil, mas diz que o veículo estava na área coberta e reservada, de responsabilidade do órgão de trânsito, e cobra explicações sobre o caso.

O crime aconteceu no posto do Detran no Shopping Popular, na antiga Rodoferroviária. Filha do servidor aposentado, a cabelereira Nathália Ribeiro diz que o espaço tem vigilantes, mas eles afirmaram “não ter visto nada”. “Um deles até me falou que ‘isso é muito comum’, que sempre há furtos ali”, contou ao G1.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que parte do estacionamento coberto é, de fato, usado pelo Detran. Segundo a pasta, a ocorrência policial não deixa claro se o incidente ocorreu em uma dessas vagas, mas confirma que o caso é investigado pela 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro). De acordo com a secretaria, houve dois casos de furto de veículo nas imediações do local neste ano. No ano passado, foram 13 situações.

Do automóvel, avaliado em R$ 80 mil, restou apenas o vidro estilhaçado de uma das janelas. O carro era automático porque o dono tem deficiência em uma das pernas, e não consegue controlar o pedal de embreagem. O seguro foi transferido do carro anterior mas, até a noite desta quarta, a família não sabia se conseguiria algum ressarcimento pelo caso.

“Passamos uns 40 minutos lá. Ainda desci para pegar meu celular que ficou no carro mas, 15 minutos depois, voltamos e o carro não estava. O Detran diz que a responsabilidade é do Shopping Popular, o shopping diz que é do Detran, e a gente fica sem resposta.”

O G1 não conseguiu contato com a administração do Shopping Popular para comentar o caso. Em novembro de 2014, reportagem da TV Globo mostrou o mesmo problema no local, e também ouviu o “empurra-empurra” entre os dois órgãos. Desde então, o governo não anunciou nenhuma ação para reforçar a segurança na unidade.

Esquema conhecido
Na reportagem de 2014, um funcionário do Detran explicou que o “modo de operação” dos bandidos era conhecido. Nesta quarta, Nathália ouviu a mesma descrição dos vigilantes no local, e do agente da Polícia Civil que registrou a ocorrência.

“Como os carros chegam sem placa, não dá para rastrear depois. Quando você compra um carro novo, a concessionária põe a chave reserva junto com o manual, no porta-luvas. Você leva para emplacar, e não imagina que vá ser roubado, então deixa ali mesmo, só até chegar em casa”, diz ela.

O fato de os criminosos terem quebrado o vidro da frente, do lado do passageiro – ou seja, mais próximo ao porta-luvas –, para Nathália, comprova a teoria.

“Todo mundo diz que isso acontece muito, mas não tem câmeras no local, os vigilantes não viram. Quer dizer, ninguém tomou providência? É isso que me deixa mais chateada, porque o crime parece ser conhecido. Não tem nenhuma placa no local, pelo menos, para avisar do risco.”

No posicionamento enviado ao G1, a Secretaria de Segurança Pública não comenta essas afirmações, mas diz que a orientação é para que os motoristas que vão ao Detran estacionem “nas dependências do órgão”. Segundo a pasta, a área externa da garagem é patrulhada “diuturnamente” pelo 7º Batalhão da PM.

“A pasta ressalta que é fundamental o registro de crimes pela vítima nas delegacias da Policia Civil. Por meio delas, é possível definir as políticas de segurança pública, orientando a Polícia Militar na distribuição do policiamento diário e a Polícia Civil para as investigações”, diz a nota.

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