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Cristofer faz mergulho desde os 15 anos de idade (Fotos: Arquivo Pessoal)
Cristofer faz mergulho desde os 15 anos de idade (Fotos: Arquivo Pessoal)

O médico-legista Cristofer Martins lança, no dia 1º de outubro, “Mergulho em Cavernas: Fundamentos e Relatos de Casos”, primeiro livro em português que trata do “espeleomergulho” – e que também marca a estreia dele como autor.

Lançada apenas no formato e-book (disponível para pré-venda na Amazon), a obra traz uma série de fotografias produzidas durante mergulhos que Cristofer e um grupo de amigos fez em cavernas de todo o país – ele pratica a atividade desde os 15 anos de idade.

O médico-legista pretende, com o lançamento, estimular a expansão da comunidade que realiza o espeleomergulho no Brasil. Por isso, essa edição funciona mais como um manual.

Cristofer traz fundamentos e explica ao leitor desde o que é mergulho até o que são cavidades alagadas. Ele também trata de acidentes e enfatiza a importância do treinamento para encarar as profundezas da água.

Com o livro, o médico-legista quer estimular o desenvolvimento do espelomergulho
Com o livro, o médico-legista quer estimular o desenvolvimento do espelomergulho

“No livro há todo o caminho que percorremos, inclusive do ponto de vista legal. Então, de certa forma, ele vai servir como um roteiro para as outras equipes”, explica o médico-legista.

EXPERIÊNCIA

Cristofer tem experiência de sobra para falar de espeleomergulho. Ele começou aos 15 anos. Até os 18, mergulhava nas águas da Ilha de Currais em Curitiba, cidade natal.

“Hoje, esse lugar é um santuário marinho. Inclusive, é proibido mergulhar lá, mas eu passei um bom tempo ali”, lembra.

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Para explorar as cavernas no Brasil, o escritor teve que adquirir técnicas e conhecimento no exterior

Com o início dos estudos na faculdade de Medicina, a prática diminuiu bastante. Logo depois, veio a mudança para Brasília (quando ele começou a trabalhar na Polícia Civil do Distrito Federal, há 17 anos), onde Cristofer virou “marinheiro-de-água-doce” e se encantou pelos rios e cavernas alagadas da região.

Mas para adquirir técnicas e conhecimento necessários à exploração das cavernas do centro-oeste do Brasil, ele participou de treinamentos nos Estados Unidos e no México. E foi justamente por causa dessa “lacuna” existente na formação e nas fontes de informação sobre o espeleomergulho no país que ele se motivou a lançar o primeiro livro.

Cristofer é médico-legista na PCDF há 15 anos (Foto: Lucas Rodrigues/Sinpol-DF)
Cristofer é médico-legista na PCDF há 15 anos (Foto: Lucas Ribeiro/Sinpol-DF)

“Não existem livros desse gênero em português e, com a experiência que acumulei, percebi que a realidade brasileira é bem diferente da realidade dos outros lugares. Eu vi que havia mercado e espaço para a construção de um livro como esse”, comenta o médico-legista.

Contribui para esse cenário, ainda, a “involução” pela qual o “espeleomergulho” passa. Parte disso vem da burocracia para conseguir a autorização necessária para mergulhar nas cavernas, o que leva os praticantes a viajar para outros países.

“O melhor ponto de mergulho acabou se tornando o aeroporto, porque você entra no avião e vai para outro lugar mergulhar nas cavernas”, explica Cristofer.

OBRA

Inicialmente, a ideia era escrever apenas sobre o mergulho em uma caverna específica: o Poço do Surubim, que é a última ressurgência do rio João Rodrigues na cidade de são Desiderio, na Bahia. Cristofer e os companheiros de mergulho foram os primeiros humanos a adentrar lá.

No entanto, o volume de informações ficou tão grande que transbordou para duas obras. A segunda será lançada depois de “Mergulho em cavernas: Fundamentos e Relatos de Casos” e será, finalmente, focada no Poço do Surubim.

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Primeiro livro de Cristofer demorou cinco anos para ser finalizado

Esse primeiro livro demorou cinco anos para ser finalizado. Isso porque todas as expedições foram realizadas nos momentos de folga dele e dos amigos, pois o espeleomergulho é encarado como um hobby.

“Nós fazemos com profissionalismo, mas é uma atividade amadora. Uma atividade que não tem rentabilidade nenhuma; pelo contrário, o custo é nosso”, explica.

Cada expedição tem, além do lazer, um segundo propósito: o mapeamento topográfico das cavernas, cujas informações são repassadas ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV), que hoje faz parte do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO).

O CECAV é o órgão que garante a autorização para o espeleomergulho em cavernas em unidade de conservação federal pertencentes à União. O grupo de Cristofer recebe a autorização e, em uma espécie de retribuição, faz aquele levantamento.

Obra traz relatos de mergulhos, mas também traz informações embasadas
Obra traz relatos de mergulhos, mas também traz informações embasadas na literatura especializada

Por isso, mais que contar histórias, o e-book lançado por Cristofer traz também “notas e citações; é uma obra bem ancorada na literatura”, defende.

RELATOS

Ainda assim, o livro traz relatos incríveis. Um deles foi protagonizado na caverna “Jackson Blue”, localizada na cidade de Marianna, na Flórida. A caverna é do tipo “insurgente”, onde é “fácil de entrar, mas difícil de sair”, conforme explica Cristofer.

O médico-legista e os companheiros resolveram investigar um conduto que estava fora de seus mapas e, invertendo seu fluxo, a caverna passou a sugá-los. O conduto, no final, dava para um salão que não tinha continuidade e a equipe decidiu voltar.

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Junto com os compalheiros de espelomergulho, Cristofer já visitou 25 cavernas; três inéditas aos olhos humanos

“Nós fomos seguindo por esse conduto até o ponto em que a caverna se torna muito apertada. Como tinha um fluxo insurgente, nós conseguimos entrar e passar, mas para voltar nós começamos a ir contra o fluxo. Quando o mergulhador tentava passar pela restrição, ele obstruía o fluxo das águas. Naturalmente a força da água empurrava para dentro e demoramos bastante tempo para passar. Foi muito difícil. Esse é o tipo de lição que a gente foi aprendendo ao longo desses anos”, relata.

Outras três cavernas listadas no livro também eram inéditas aos olhos humanos até a visita do grupo de Cristofer. No total, ele já contabiliza 25 cavernas visitadas. No futuro, já há mais uma, também intocada pelo homem: o local é conhecido como “Lagoas Cárticas do Tocantis”.

O escritor não esconde a animação com esse próximo mergulho: “Nós realmente não temos a menor ideia do que nos espera por lá. Nunca sabemos o que pode acontecer”, diz.

 

 

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