O protesto contra as reformas da Previdência e Trabalhista e contra o presidente Michel Temer (PMDB), que levou 45 mil pessoas à Esplanada dos Ministérios, terminou em confusão. O clima esquentou por volta das 13h40 desta quarta-feira (24/5), quando um grupo de manifestantes furou o bloqueio montado pela Polícia Militar na altura do Palácio da Justiça. A situação fugiu do controle duas horas depois. Oito ministérios foram depredados e dois incendiados. No meio da tarde, Temer convocou tropas federais para ocupar o centro da capital.

Ao todo, 49 pessoas, entre policiais (8) e manifestantes, ficaram feridas. Um homem levou um tiro de arma de fogo e foi levado ao Hospital de Base do DF (HBDF) pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No entanto, até a última atualização desta reportagem, não foi divulgado o estado de saúde nem a identidade da vítima. Também está internado na unidade o homem que teve a mão atingida por um rojão. Clementino Nascimento Neto, 35 anos, foi ferido no olho, provavelmente por um tiro de bala de borracha. Ele passou por uma cirurgia de urgência.

A Polícia Civil instaurou 12 procedimentos, sendo que oito pessoas foram conduzidas ao Departamento de Polícia Especializada (DPE). Três delas foram presas por porte de substância entorpecente para consumo pessoal e porte de arma branca, uma por porte de arma branca, duas por resistência e pichação, uma por lesão corporal e resistência e uma por desacato.

Alguns manifestantes jogaram hastes de bandeiras, pedaços de madeira, canos de PVC e até uma bomba caseira nos policiais, que revidaram com gás de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo. O clima descambou para uma guerra entre ativistas e PMs. De acordo a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, havia 35 mil pessoas na Esplanada no momento em que os confrontos se intensificaram.

Diante da confusão, a cavalaria avançou contra os manifestantes que ocupavam o gramado da Esplanada para dispersá-los. Naquele momento, ao menos cinco pessoas ficaram feridas. Por volta das 15h, os manifestantes continuavam jogando bombas caseiras contra a tropa e gritando “fim da Polícia Militar” e “fora, Temer”. Eles também lançavam pedras contra os militares e usaram banheiros químicos como barricadas. Vídeos mostraram que pelo menos sete disparos de arma de fogo foram realizados pelos PMs.

Alguns ministérios foram depredados, como os da Saúde, Fazenda, Ciência, Tecnologia e Inovação, Transportes, Trabalho, Planejamento, Turismo, Cultura, Minas e Energia, Defesa e Agricultura, que foi incendiado. Todos os ministérios foram evacuados. Os funcionários tiveram de deixar os prédios pelas garagens e pelas vias S2 e N2. Por volta das 16h, os bombeiros controlaram as chamas na pasta da Agricultura.

A biblioteca da Cultura sofreu depredações e o Museu Nacional voltou a ser alvo de pichações, como na época do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Desta vez, as cobranças são por “diretas já” e “fora, Temer”.

Um grupo de manifestantes também ateou fogo nos banheiros químicos ao longo da Esplanada. Um dos pontos onde houve bloqueios foi em frente ao Ministério da Saúde.

Um dos manifestantes, ao tentar atingir um policial militar com um rojão, teve ferimentos na mão direita devido à explosão. O homem foi socorrido por populares. O Corpo de Bombeiros fez atendimentos aos feridos.

Entre eles, havia oito policiais. Segundo o comandante-geral da PMDF, coronel Nunes, um deles teve a perna quebrada. Ainda de acordo com o coronel, foram destacados 2.927 policiais, 89 viaturas e dois helicópteros. Durante a confusão, os sindicalistas pediam por meio dos carros de som, que as pessoas com rostos cobertos tirassem as máscaras. “Essa é uma manifestação pacífica”, gritavam. Os apelos, no entanto, foram ignorados.

Por volta das 17h30, o ato foi disperso na Esplanada e os ativistas subiram em direção ao Estádio Mané Garrincha. Na Rodoviária, houve tumulto, mas foi rapidamente controlado. Às 18h30, a situação já estava mais tranquila.

Desde a 0h desta quarta (24), as 12 faixas da Esplanada dos Ministérios foram fechadas para carros.
Liderado por centrais sindicais, o protesto estava marcado para a partir das 14h. Mas, por volta do meio-dia, os manifestantes concentrados próximo ao Estádio Mané Garrincha e à Torre de TV começaram a descer pela Via N1, rumo ao Congresso Nacional.

Antes da confusão, a Polícia Militar tinha montado um cordão de isolamento na altura da Catedral para revistar as mochilas dos manifestantes. Sindicalistas orientavam os participantes a retirarem os mastros das bandeiras. “Estamos de olho”, diziam, do alto do carro de som.

Para evitar possíveis invasões, a segurança da Presidência da República fechou os três acessos ao Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer. Nem mesmo a circulação de pedestres ou da imprensa era permitida no local. A última vez que um protesto de tamanhas proporções tomou o centro de Brasília foi no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Ao longo desta quarta (24), os manifestantes não tiveram acesso à Praça dos Poderes. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, a ideia era restringir o acesso dos ativistas ao quadrilátero da região da Esplanada dos Ministérios, desde a Catedral à Alameda dos Estados, em frente à entrada principal do Congresso Nacional.

Dessa forma, foi impedido acesso ao Palácio do Planalto, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso. “A área é uma delimitação prevista no Protocolo Tático Integrado (PrTI), assinado, mês passado, por 48 órgãos do Distrito Federal, Congresso Nacional e governo. Não será permitida a presença de manifestantes na Praça dos Três Poderes. O protocolo estabelece esse espaço para os protestos de grande concentração de público em Brasília”, explicou a SSP, por meio de nota.

Até as 10h, 500 ônibus tinham chegado ao DF trazendo pessoas para o protesto. Às 6h, a PMDF realizou abordagens na BR-080 (entrada de Brazlândia) em 53 coletivos ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), transportando 2 mil pessoas que vinham de Goiás e do Pará. Foram recolhidos sacos com pedras, canos de PVC, hastes de madeira e um facão.

Na mesma rodovia, a Polícia Militar prendeu quatro homens. Eles foram levados para o Departamento de Polícia Especializada, ao lado do Parque da Cidade, pois portavam um punhal, canivetes e uma porção de maconha.

Jorge Bastos, diretor do Sindicato dos Agentes Penitenciários da Bahia, encarou 25 horas para vir à manifestação. Ele considera que a Reforma da Previdência é inconcebível. “Essa reforma é nefasta aos trabalhadores. Ainda mais em nossa categoria, que vive em um ambiente de alta periculosidade. Se ela for aprovada, morreremos antes da aposentadoria”, indigna-se.

A Reforma Trabalhista também foi alvo de críticas. “Essas mudanças propostas por um governo golpista apenas vão tirar direitos conquistados. Acreditamos que somente a manifestação popular pode impedir essas reformas”, argumenta Ricardo Ferreira, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas.

Por conta da manifestação, o horário das aulas na rede pública de ensino do Distrito Federal foi reduzido nesta quarta (24). Tanto os alunos do turno matutino quanto os do vespertino tiveram aula das 7h30 às 10h.

O Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF) também participou do movimento contra as reformas. De acordo com o sindicato, mesmo com mudanças em relação à proposta original do governo federal, as mudanças acarretam grandes prejuízos para a aposentadoria dos trabalhadores, sobretudo a dos policiais civis.

O texto propõe aumento do tempo de contribuição — de 15 para 25 anos para mulheres e de 20 para 25 anos para homens — e a não integralidade da aposentadoria para policiais em atividade a partir de 2013, o que atinge, segundo o Sinpol, cerca de 25% do efetivo da Polícia Civil do DF na ativa.

(conteúdo Metrópoles)

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